
Eu morro de amores, como qualquer paulistano necessitado de música, pela Casa de Francisca, lá na Quintino Bocaiúva. É um lugar com tantas histórias. Quando criança, por exemplo, eu buscava naquele endereço, entre outros locais do centro, minhas partituras para o estudo penoso do piano clássico.
E hoje fui a esse espaço, tornado localidade para shows, com toda a dificuldade que isto representa (o centro de São Paulo, especialmente à noite, sangra só). A grande sambista Adriana Moreira brilharia naquele palco com sua voz. E ela é tudo, sejamos sinceros (vida, beleza), enquanto me ponho a considerar: valorizamos Adriana como deveríamos? Ou qualquer outra intérprete brasileira recente? Por enquanto, só a Monica Salmaso, depois de 40 anos de carreira, parece desfrutar de reconhecimento desejável – e isto não apenas por suas imensas qualidades, mas por ter ganhado a chance de rodar em turnê recente com o Chico Buarque.
Adriana e seus Moreiras – os filhos Pedro, no trombone, e Rafael, na percussão – dão mais que o recado sambista na Casa de Francisca que ontem eu vi. Dão seu coração, sua ancestralidade, a nós que passamos por aquele local, tantas vezes, apenas pela quase certeza de experimentar o alívio para nossas últimas dores. O meu país é meu lugar de fala, lembra Adriana em seu show, um país que ainda soa rouco, viciado unicamente nos amores antigos da nossa grande música popular de sempre.
Então é com muito carinho que dirijo à Casa de Francisca minha preocupação como frequentadora. Tornou-se um lugar algo triste para quem o procura como público. Eu poderia dizer que a organização ruim, o serviço atrapalhado, cansaços visíveis, sugerem uma espécie inicial de abandono?
São pequenas grandes coisas somadas. As cadeiras onde nos sentamos ao fundo, por exemplo, para que nos sirvam, notadamente exigem conserto. Sim! Uma pessoa de minha idade, ou mais nova que eu, merece sentar-se com conforto, sem afundamento, para usufruir, livre da possibilidade de dores pelo corpo, o maravilhoso som que sai do palco.
Não mereceríamos um toalete de meninas diferente daquele que vi hoje, onde um entupimento gasoso passeia por nossos narizes incessantemente? O banheiro precisa apenas de manutenção, não deve ser difícil fazer.
Até parece que o olho do dono lhes falta. Ou um olho de amor. A comida ainda é boa, e os garçons se viram como podem diante da imensa demanda. Mas na noite de Adriana, por exemplo, fui informada de que não poderia ir ao banheiro sem antes pagar a conta da noite no próprio salão. Claro que havia outros antes de mim… Foi cômico, pra não dizer ruim!
Falo tudo isso como se fizesse uma caricatura, como se enviasse um sinal. E a Casa que entenda como achar preferível. A vida é curta e, como em tudo, precisamos experimentá-la com gosto para que surja o grande sabor.
