Poltergeist de Elis

Nos tempos em que eu fazia jornalismo cultural diário ou semanal, tinha de brigar com a opinião do povo sobre tudo, porque cultura é como time, todo mundo torce pra um lado e todo mundo entende de futebol.

Por exemplo, eu gostava de We are the world, mas na redação da Folha não podia dizer isso. Achava um porre Aquarius, mas na revista de Senhor Democracia, um proselitista que detestava qualquer arte brasileira, nem poderia ousar. Um dia escrevi que Chico era muito melhor compositor que escritor, e alguém que amo me perguntou: “Por que vc faz isso consigo mesma?”

Até que chegou um ponto em que eu não dizia mais o que pensava. Só procurava descrever alguns momentos importantes dos livros, discos, filmes, mergulhando minha opinião na ambiguidade (ou ironia, mas prefiro ser ambígua, é tão bom e difícil).

Ainda bem que não preciso mais escrever minha opinião ao grande público, porque o que seria de mim diante desse comercial com a Elis revivida pela inteligência artificial? Setenta anos da Volkswagen do Führer! Que coisa tétrica, que medo daquele sorriso em movimento prestes a saltar da boca, gente.

Como é bom a gente dizer o que pensa nas redes sociais.

Ops.

🫢