“Anora”, uma borboleta feliz da comédia

Que caldo divertido o diretor Sean Baker nos serve em “Anora”.

Aos 53 anos, o estadunidense que se formou em artes pela Universidade de Nova York é uma espécie de erudito pop da cinematografia dos Estados Unidos. Seu filme, que ganhou Cannes no ano passado e concorre a melhor filme no Oscar 2025, tem um pouco de tudo, a nos fazer recordar deliciosamente as obras icônicas da comédia romântica. 

Dá-lhe irmãos Coen (qualquer filme em que um bando de sem-noção se prepare para uma aventura), dá-lhe o Scorsese de “After Hours”, os anos 1980 de John Hughes e Chris Columbus, o Billy Wilder de “Sabrina”, “Pretty Woman” e as comédias da Hollywood dos anos 1930 pré-código Hays, em que o casamento era a única situação a salvar uma mulher… Quanto mais você tiver visto cinema, mais referências vai achar neste filme, e será uma diversão a mais encontrá-las enquanto ele passa.

Os atores excelentes têm em Baker um condutor que não deixa o ritmo da orquestra cair. Mikey Madison (intérprete de Sadie em “Era uma vez em… Hollywood”, de Tarantino, e candidata a melhor atriz neste Oscar 2025) empenha-se e desempenha, sem que haja dúvida sobre seu protagonismo, entre o suspiro da mocinha e a audácia da mulher. 

Mergulha-se aos poucos na trama, a envolver trapalhões perdedores muito engraçados. Ao contrário do que tem sido a maioria dos filmes relacionados em várias categorias deste Oscar, “Anora” não descamba passada a primeira hora. Pelo contrário, começa suave como um “Gatinhas e gatões” e vai ramificando o sonho de uma dançarina erótica a uma sucessão de decepções e descobertas.

Toda vez que uma boa comédia é lembrada a uma premiação de porte, uma borboleta bate asas feliz no porão do cinema. 

Embarque.

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