Fernanda Torres matou “Wicked” a pau

Eis um filme tão longamente ruim que é mesmo um milagre ver a atriz/cantora/compositora Ariana Grande sair ilesa de toda a confusão. Fernanda Torres, nossa Queridinha em Hollywood, está certa. Grande é grande coisa nele. Eu diria que a coisa melhor. 

O filme musical do estadunidense Jon M. Chu, um graduado de 46 anos da University of Southern California (USC), percorre a travessia Broadway-Hollywood com vestimenta queer. Em “Wicked”, candidato em dez categorias neste Oscar 2025, invertem-se os papéis, e o mal representado por Cynthia Erivo, a bruxa verde do Oeste, é em verdade o bem – do mesmo modo que Joan Crawford, a vilã que batia na filha com o cabide, vem a ser lembrada com carinho pela comunidade marginalizada queer dos Estados Unidos. 

(Às vezes parece difícil entender esse processo, mas a gente chega lá se pensar e pensar. Empoderada, Joan Crawford passou o rolo compressor nos homens, em Hollywood e na vida. A filha mais velha, adotada, acreditava até que a mãe envenenou o marido, dono da Pepsi! Mas, hey, só com muito talento e uma ruindade no coração glamuroso seria possível, então, vencer o machista opressor… Pioneira!)

“Wicked”, adaptação cinematográfica do musical homônimo da Broadway inspirado no livro de Gregory Maguire “Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West”, exagera o estilo de cenários de “Barbie” para refazer, com sinais trocados, o muito divertido “Legalmente loira”, de 2001. Ariana Grande (Glinda) cita a personagem de Reese Whiterspoon: ela entra na universidade de bruxaria (oh, Harry Potter) e não tem dúvida de que se destacará. Mas será mesmo assim?

Nada podemos concluir por enquanto, já que este pesadelo de 2 horas e 40 minutos ainda precisará de continuação. Aparentemente, nossa nova Loira Legal provará ser do bem, contra a Joan Crawford Verde do Oeste, que, ressentida, fará o povo de Oz saudar o fim de seu reinado, como os judeus fizeram no crepúsculo nazista. 

Sim! Oz, interpretado pelo impagável Jeff Goldblum e assessorado por Madame Morrible (Michelle Yeoh), quer reinar na divisão, é um Hitler de pele morena. Ele até mesmo destitui o professor de História, interpretado por um bode velho com a voz de Peter Dinklage, que será engaiolado, assim como outros “bichos” deportados. 

Sim, o historiador é mostratado como um bode velho no filme. Esta representação, o longa “Meninas Malvadas” (2004), com o qual “Wicked” tantas vezes quer se parecer, não ousou fazer. E isto é bom ou mau? Por certo, a História é tudo o que os nazistas querem eliminar e bodes rendem ensopados, mas ainda não podemos saber. 

Quando Fernanda Torres avistou Ariana Grande, que a procurara no tapete vermelho de um evento pré-Oscar em Santa Bárbara, imitou seu “toss toss” como um sinal de apreço por sua interpretação no filme, e as duas se abraçaram em elogios mútuos. “Toss toss” é a jogada do cabelo comprido para trás, de um lado a outro, encenada por Ariana Grande para empoderar o charme de seu personagem aos homens. Pela voz brilhante, pelo ótimo timing de sua comédia, quiçá por efeito da montagem que percebeu tantas qualidades, sua atuação como Glinda é de longe a principal, a mais atraente do filme. Os lábios de Cynthia Erivo são belíssimos, e é uma pena que eles não lhe ajudem a interpretar a outsider com a convicção e a fortaleza quiçá merecidas.

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