
Eu me lembro de um constrangimento vivido ano passado aqui no centro em um supermercado O dia, que pertenceu à rede Carrefour até 2011.
Um senhor negro que balbuciava palavras e não parecia plenamente em condições de estar lá reclamava das duas mulheres do caixa, também negras, que ameaçavam chamar a polícia outra vez. Ele não queria passar mais três dias detido, disse, só porque havia pegado bolachas pra comer.
Perguntei o que estava havendo. Uma das caixas me disse, zangada e sarcástica, não ter pena dele, mas de si mesma. As unidades de O Dia não contavam com seguranças. Elas, mulheres, é quem cuidavam de tudo. Abriam e fechavam a unidade, horas e horas trabalhando sem qualquer proteção. Os ataques dos noias e ladrões eram frequentes.
Fiquei desagradada com tudo. O Dia não cuidava de seus funcionários, não tinha o menor respeito por eles. Mas, obviamente, as funcionárias estavam pressionando um ladrão de galinhas indefeso, já que com os noias e ladrões jovens elas não podiam ter.
Perguntei o que fariam com o velho. A segunda caixa piscou o olho pra mim. Disse que não faria nada, mas lhe daria um sermão. Sem esperança de que ele a ouvisse.
Este Brasil dói no sangue e na alma. Se a gente boicota o supermercado, pessoas como ela ficam sem trabalho. E no Extra e em outros estabelecimentos há condições horrorosas idênticas sob as quais essas pessoas trabalham por precisar. No Carrefour, que tem mais dinheiro, terceirizam a segurança para uns bostas de PMs de modo a não pagar direito trabalhista enquanto martirizam o público negro.
O problema é esse sistema. Nada disso vai parar de acontecer, ademais sob um governo miliciano, legítimo capacho do capitalismo financeiro que quer destruir nossa vida e nosso planeta.