Eu não sei de nada, que sei?
Saberemos se nos deixarem saber.
O tempo.
E serão cínicos, justamente porque o tempo passou.
Quando mataram um brasileiro em terras estrangeiras, um jovem inexistente socialmente no metrô, à toa, aquele trabalhador!, ninguém teve culpa, lembra? Mais acidentado e inoportuno, nosso Jean Charles foi, que uma vírgula entre verbo e sujeito.
Então agora, me desculpem, não vejo o mundo indignado suficientemente só porque um inglês bem visto pelo lado de sua consciência ambiental, da doçura de coração e sorriso, morreu. Está bem, concedo que ele não será a mesma vírgula brasileira indevida entre duas funções gramaticais. Será talvez as cores de um sonho triste, do excesso, do luxo impensável de amar o Brasil.
Dito, sentido tudo isso, eu penso que não, que pescadores a pegar no rio moedas de pirarucu douradas para cumprir o pedágio do tráfico, não, impossível que esquartejassem os corpos só porque fotogravavam seu crime pelo celular. Não existe, entende? Essa força tem berço, sangue frio, compensação, trabalhada e construída no totem das coisas sinistras.
E nem preciso nomear o inominável para entender por que justifica o crime, e não só faz isso, culpa as vítimas, diminui seu intelecto, troça, cospe, asseia metaforicamente o sangue estancado nas suas roupas encontradas rasgadas, fotografa com hálito essas cenas cabíveis mentalmente – mentalmente? – no interminável varal lustroso do seu museu de horrores.
Eu não sei de nada, que sei?
Nem mesmo li as notícias do dia.
Saberemos se nos deixarem saber.
O tempo.