no meio da escada, a gente ruim

Vi no Facebook uma foto, que não reproduzo, de apoiadoras ricas do verme. Extasiadas, sorridentes, nem todas botocadas, algumas bem jovens, elas se perfilavam em torno de uma escada. Ao aproximar seus rostos com o zoom, senti uma espécie de desmaio emocional. Como se tivesse batido a cabeça na parede e ela balançasse. Como se, diante de tais mulheres, me tirassem um pedaço de pele. Eu sei que hoje, no Brasil, essa gente é comparativamente pouca. E piso nela com o meu coração. Mas a foto me diz que ela existe, barulhenta como lhe convém, por aí. Talvez eu até tenha tratado bem alguém próxima delas. Talvez os graus de separação entre nós sejam menos que seis. Talvez eu tenha escrito algo que leram ou lerão. Talvez eu tenha cruzado com uma delas no laboratório de análises clínicas e nossos vestígios se entreolharam! Talvez a mãe de uma delas tenha estudado comigo naquele tempo de bolsista de colégio pago, talvez essa mãe me reconhecesse e abraçasse ao me ver! O trigal dourado não tem fim. É como se eu voltasse ao pior dos pesadelos dos contos de fada. Como se fosse Bambi de novo, sem minha mãe. Como se ouvisse outra vez a história de João e Maria abandonados ao caldeirão da bruxa pelos pais. Desde a visão das imagens dos convalescentes da covid nos hospitais eu não me sentia tão ruim. Não pode ser que essa gente vença, não vai vencer, não vai.

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