As cópias imperfeitas

No primeiro passeio ao ar livre, pela praça 14 Bis, em São Paulo, eu tinha quatro meses. Curti? Não sei. Talvez tivesse sono. Talvez desconfiasse…

As fotos foram feitas por Walter Pavam, meu pai, reveladas e ampliadas em formato pequenino no banheiro de nosso apê alugado de um quarto no Bixiga. Nunca vi estas imagens coladas nos álbuns, estes que ele compunha como se diagramasse livros.

Esperava o foco perfeito da sua Flexaret, o enquadramento ideal, o sorriso de seu personagem ou a surpresa. E estas imagens não resultaram no que pretendia exatamente. Mas, como prezava a fotografia como entidade, não jogava nada fora, nem seus erros.

As duas imagens estavam localizadas em uma das pastas nas quais ele acumulava suas frustrações, as cópias imperfeitas, fosse pela foto em si, fosse pela ampliação malsucedida.

A primeira imagem não tem meu sorriso, e talvez ele estivesse insatisfeito com a composição. A segunda, compôs como queria, com essa diagonal rumo ao infinito, meu sorriso e o esplendor da praça ao fundo. Mas o fundo, justamente, parecia estourado e indefinido.

Então guardou tudo. Para usar depois? Era muito comum que ele desse cópias aos parentes, amigos presentes nas fotos. Muita gente que conheci só teve imagens de infância porque meu pai lhe deu. Uma grande generosidade da parte dele, porque levava a sério a infância. Mas o papel fotográfico era caro, suado para ele, que o usava também profissionalmente, para ampliar seu horizonte na pintura.

De todo modo, estas são tentativas muito bonitas da forma como foram feitas. O tempo as valorizou. Ou ganharam imenso valor pra mim.

Obrigada, menino velho, por tudo e em tudo que me fez.

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