
Vou à padaria hipster, que afinal tem a melhor baguete, e a atendente me oferece o pão de queijo que acaba de sair. Pego um, claro, tão quentinho, e já meto o bocão pra comer ali mesmo, no banquinho da rua, quando ele se aproxima.
Não tem 30 anos, não é preto, está enrolado no cobertor e me fala com calma: “Me dá pra comer?” Sempre esqueço das moedas, caramba. “Desculpe, querido, não trouxe dinheiro.” Ele me olha do mesmo jeito imóvel: “Um pedaço do que a senhora está comendo mesmo.” Eu ensaio protestar, porque saí da hidro faminta. Mas corto o pãozinho ao meio com os dentes e lhe dou. Poderia ter lhe dado inteiro? A culpa atravessa o dia.
As tristezas brasileiras acontecem juntas e misturadas. Não somos astutos o suficiente para num instante apreendê-las, driblá-las e correr pro gol.