“Carga residual” é a expressão nascida neste governo italiano de extrema direita para qualificar quem não seja menor desacompanhado, mulher ou fragilizado a ocupar as embarcações de migrantes ilegais. Fica decidido, então, que a dita carga residual não possa ter atendimento em solo italiano em caso de naufrágio e deva ser extraditada de imediato.
Além disso, há cálculos para limitar o salvamento marítimo, numa franca oposição ao exercício humanitário de preservação de vidas.
Isto porque, como acredita a premiê Giorgia Meloni, as embarcações que socorrem imigrantes irregulares têm funcionado como “serviço de táxi” para que eles adentrem o território italiano.
Em um caso como o de hoje, no qual trinta pessoas, incluindo crianças, morreram no naufrágio que partiu ao meio uma embarcação a atingir Cortone, na Calábria, o raciocínio contorcido do governo vai culpar as ONGs pelo ocorrido. Isto porque, ao exercer o salvamento, elas sinalizariam aos futuros imigrantes ilegais a possibilidade de acolhimento.
Tudo isto é tão insano que deveria ser examinado por um organismo internacional pronto a punir comercialmente os estados violadores de direitos fundamentais. Mas, sendo o mundo o que é, o único direito assegurado nestes tempos é o de fazer o capital financeiro multiplicar-se acima das nações, o que implica diminuir populações indesejadas. Os miseráveis que esse capitalismo cria continuamente não podem mesmo ser atendidos, restando-lhes uma mal disfarçada solução final.