O filme de Tsai Ming-Liang presente na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo discorre sobre um princípio do cinema, o movimento

do ator Lee-Khang Sheng,
presente em todos os filmes do
cineasta desde os anos 1980
Meu querido, admirável amigo Wesley Pereira de Castro, o único crítico de cinema que acompanho, me disse sobre “Permanência em lugar nenhum” que era desafiador, porém bom. Wesley, contudo, disse sentir falta do que o diretor Tsai Ming-Liang, da Malásia, fazia antes de iniciar, cerca de uma década atrás, a série de filmes sobre as andanças do monge Xuanzang, da dinastia Tang.

Interpretado por Lee-Khang Sheng, presente desde os anos 1980 em todos os filmes de Ming-Liang, o andarilho de pés descalços e cabeça raspada usa um manto vermelho para percorrer o mundo. E o filme capta seu andar em meio à paisagem, sempre muito lento. Com os braços em suspensão, ele inclina o corpo levemente para trás e coloca primeiro o calcanhar, depois o restante de um pé no chão; o outro pé faz o mesmo movimento e o corpo se inclina para frente de maneira que a passada seja concluída.

Não conhecia o diretor, portanto não sei o que fazia antes dela série “Walker”. Mas este filme não me pareceu difícil de ver, até pelo contrário. Ao fundo e ao redor, enquanto Xuanzang caminha, está Washington DC, o obelisco tanto quanto a estação de trem, entre outras paisagens amplas. Ninguém o interrompe, às vezes nem o percebe, exceto alguns turistas que param para fotografar. Os dias podem ter sol ou garoa, pode haver piscinas de água ou regatos com pedras a transpor, e o monge estará sempre a caminhar do mesmo jeito. O filme é isso, sem música exceto no final, mantendo o barulho original do lugar – às vezes pessoas falam e os passarinhos cantam, às vezes é a chuva que cai.

De maneira paralela, há o forasteiro interpretado por Anong Houngheuangsy a conhecer a cidade, olhando seus interiores e preparando seu miojo. Onde os dois se encontram? É um filme bem editado, em diferentes planos longos entre si, com fotografia solar. Um filme sobre o movimento, princípio do cinema. Um filme-meditação.

Sessões no Cine Sato (18h do dia 26) e no Cinesesc (16h50 do dia 28)