


Com qual delas me pareço mais, não sei. Mas estou certa de que ainda crescem em mim.
Vó Guilhermina, neste desenho de meu pai, eu não conheci. Morreu aos 50 anos, diabética, na passagem do ano, depois de uma “melhora da morte” de que meu pai recordaria por toda a vida, sempre em lágrimas. Ele que era então menino pequeno nunca se recuperou da perda dessa mulher nascida nos Açores, sua mãe demais, enquanto não se conectava com o pai, veneziano e grave. Guilhermina dizia ter-se apaixonado pela beleza de meu avô, uma história bonita: Daniel deixou a família e a possível pequena herança em terras para se casar com ela, revoltado com os parentes que não queriam a união (e por que não, meu deus?). De olhos tristes e puxados, as roupas sem qualidade ou adorno, minha avó era a submissão à família, à lida camponesa de início e à carga proletária suburbana que viria depois.
Vó Wadiha parecia ser quase o oposto. Nascida no Líbano, despertara o amor de meu avô sírio Dib ao passear com seus olhos violeta, adolescente, pelas ruas de São Luís. Sempre me pareceu altiva e doce a um só tempo. Devota de se ajoelhar na rua diante das imagens dos santos católicos que apareciam pelo passeio, era muito vaidosa também, pronta a encarar uma foto sem medo. Convivi com ela nas férias em Fortaleza até os meus 10 anos. Wadiha bem que tentou me ensinar crochê. À mamãe, disse várias vezes que minha pele era especialmente macia, o que bastou para me tornar orgulhosa, sei lá, imodesta, sobre esta parte de meu corpo, a maior e mais escondida.
Sinto sua ausência e presença a um só tempo. Uma transcendência feminina, enganadoramente leve como as nuvens num dia de sol.