A Testemunha, química do romance

Harrison Ford e Kelly McGillis
no filme de Peter Weir, 1985

Uma entre tantas coisas de que sinto falta no cinema de Hollywood é a capacidade de expressar a química intensa do amor sem diálogos, gritos ou mesmo nus.

“A Testemunha” me fazia arrepiar em 1985. Mas parecia ainda mais velho. Uma espécie de filme mudo com trilha sonora onde tudo caía bem, tiro, porrada, sangue, a estrada do tempo, os contrastes sociais e luminosos, os olhos grandes da infância, as perdas, os ganhos, os ciúmes da vida adulta, tudo com aquele ritmo notável do vagar das memórias.

Às vezes tenho vontade de escrever um livro inteiro sobre ele. Só às vezes, porque a vontade não é suficiente para superar os obstáculos à concretização. Os livros que nunca escrevi, porém, continuam a viver em mim, à espera de que alguém precise deles, quando notadamente ninguém precisa. Deixo-os aqui dentro, quentinhos, alimentados com o sol da manhã e os passeios a pé, por serem tão meus.

Os contrastes luminosos, a estrada do tempo, o amor sem palavras