VALEI-ME, HOMEM-PÉTALA

Vinha com uma saudade imensa de Djavan, que afastei da minha vida após a treta de ele apoiar o verme.

Mas hoje eu o ouvi pela manhã e pensei: caramba, esse sujeito ama demais…

E então passei a fabular que um homem-pétala como ele não apoiou verme coisa nenhuma, apenas se expressou mal.

Porque, no sentido estrito, quando foi mesmo que Djavan se expressou bem, racionalmente, escorreitamente bem?

Valei-me!

Pode ser que ele não tenha entendido a própria opinião, já que em tudo o que faz fica faltando um pedaço toda vez.

E é justamente isso que eu amo e de que preciso na canção. Preciso de canção! Preciso que ele, que Luiz Melodia corra em círculos e me deixe completar os espaços, elaborar uma ordem nas suas imagens, essas que ainda se materializam em todos os momentos cor de sangue da minha vida.

Caçadores do ambíguo, do contraditório, do imperfeito, fotógrafos de rua, como entendo! Fotografar os sentidos, esse é o segredo que não pode morrer com eles…

O cio vence o cansaço, sim.

Mas hoje as letras de sucesso da indústria cultural, da música agrobrasileira, são mesmo as trevas, um vazio, um estupro, e eu sempre me pergunto: o Brasil quer mesmo ser arrebentado?

“Me dá logo aí, ô dona, enquanto eu bebo minha Stella, tô atrasado pra Dubai”?

Até parece que há um Brasil sem tempo pra poesia, um Brasil precocemente ejaculatório dos infernos, que até o momento impõe seu ritmo breve…

Tô fora desse Brasil!

Tô em Resende macaleando & djavaneando meu mundo-melodia, o que há de bom.

Estou no hoje-djavan como no hoje-Saulo Duarte, no hoje-Negro Leo, no hoje-Kaboom 23, hoje-MAô, hoje-Kafé, no hoje-Zeferina, no hoje-Lia de Itamaracá!

Arrebentar, só o mar!