Vinha com uma saudade imensa de Djavan, que afastei da minha vida após a treta de ele apoiar o verme.
Mas hoje eu o ouvi pela manhã e pensei: caramba, esse sujeito ama demais…
E então passei a fabular que um homem-pétala como ele não apoiou verme coisa nenhuma, apenas se expressou mal.
Porque, no sentido estrito, quando foi mesmo que Djavan se expressou bem, racionalmente, escorreitamente bem?
Valei-me!
Pode ser que ele não tenha entendido a própria opinião, já que em tudo o que faz fica faltando um pedaço toda vez.
E é justamente isso que eu amo e de que preciso na canção. Preciso de canção! Preciso que ele, que Luiz Melodia corra em círculos e me deixe completar os espaços, elaborar uma ordem nas suas imagens, essas que ainda se materializam em todos os momentos cor de sangue da minha vida.
Caçadores do ambíguo, do contraditório, do imperfeito, fotógrafos de rua, como entendo! Fotografar os sentidos, esse é o segredo que não pode morrer com eles…
O cio vence o cansaço, sim.
Mas hoje as letras de sucesso da indústria cultural, da música agrobrasileira, são mesmo as trevas, um vazio, um estupro, e eu sempre me pergunto: o Brasil quer mesmo ser arrebentado?
“Me dá logo aí, ô dona, enquanto eu bebo minha Stella, tô atrasado pra Dubai”?
Até parece que há um Brasil sem tempo pra poesia, um Brasil precocemente ejaculatório dos infernos, que até o momento impõe seu ritmo breve…
Tô fora desse Brasil!
Tô em Resende macaleando & djavaneando meu mundo-melodia, o que há de bom.
Estou no hoje-djavan como no hoje-Saulo Duarte, no hoje-Negro Leo, no hoje-Kaboom 23, hoje-MAô, hoje-Kafé, no hoje-Zeferina, no hoje-Lia de Itamaracá!
Quando eu era criança, uma festa igualitária rolava no rádio. O ouvinte pertencente a qualquer classe social saberia existir naquele momento, fazendo música no Brasil, tanto Chico quanto Caetano, Gonzaguinha quanto Zé Rodrix, Waldyck Soriano e Bethânia, Rita Lee, Raul Seixas, Ivone Lara, Tonico e Tinoco, Originais do Samba, Clara Nunes, Gal, Moraes Moreira, Beth Carvalho, Roberto Ribeiro…
Sabíamos desses e de tantos outros! E o público para cada um e para todos encontrava-se nas intersecções.
Ontem peguei um uber no momento em que o gentil motorista de boné, situado na Band, acompanhava as dez canções mais pedidas do dia. Apurei meus ouvidos e nada. Nunca soube daqueles sucessos, de qualquer banda a interpretá-los, nenhum mísero nome de compositor!
Me dei conta então, dolorosamente, do quanto estamos separados nos últimos anos por esta indústria agro-cultural incessante… A atualidade que ouço, e ouço bastante, não está lá, embora mais que merecesse estar. Ela não entra na Bandeirantes, na rádio popular. Está escondida, sequestrada, inalcançável aos ouvidos gerais.
Somos mesmo um país aos pedaços, servido em porções.
O cantor e compositor paranaense transforma seu “Poder supremo” em celebração
O figurino brilhante, o sorriso: Bruno Morais tem muito a celebrar em “Poder Supremo”
Bruno Morais é meu querido. E a quantos, neste mundo, realmente quero? Um querido porque, por mim, viveria de ouvir vozes como a sua. E de conversar com ele, apreciando sua estética para a música, as artes plásticas, a fotografia, as roupas. Viveria de ouvir os casos que me conta, sua arguta delicadeza ao conversar.
Uma vez quando a banda de meu marido, o Nouvelle Cuisine, completava 30 anos, em um megashow no Auditório Ibirapuera, sentei-me ao lado de Carlos Fernando, o cantor que vinha enfrentando tantos problemas com sua voz. Disse ao Carlos que me emocionava aquela homenagem, embora nenhum convidado a lhe prestar tributo tivesse a sua voz. “Mas aquele menino, o Bruno, é bom, não é?” Sim, Carlos, é sim!
Bruno Morais acaba de finalizar uma temporada com seu show “Poder Supremo” no Centro Cultural São Paulo. Por conta de minha dor no tornozelo, só pude estar presente à apresentação no último dia, hoje. Uma pena, porque gostaria de tê-lo recomendado a vocês antes. Mas já sabem, não? No spotify ou em outro desses streamings musicais, até no YouTube, a gente tem acesso a essas coisas de valor.
Não esperava que o show do Bruno, em torno de um disco que me relatou fazer tem uns seis anos, fosse ser toda essa celebração à vida. Um espetáculo de verdade, no meio de toda a tristeza de existirmos no Brasil. Uma banda maravilhosa, cinco caras, cinco minas, metais, bateria, percussão, guitarra, que é tudo de melhor com que qualquer profissional pode contar. Saí meio extasiada do show, esperando o sol nascer de novo. Let the sunshine in!
Que tranquilo e infalível é o trompete de Larissa Oliveira
Os figurinos, as túnicas brilhantes, falam por si. É um show que celebra o poder supremo de viver. Não consigo entender direito as letras de canção nos shows brasileiros, as técnicas de som que escondem a voz me são incompreensíveis, mas este parecia melhor que os outros. O que compreendi de Bruno é que observa, contradiz, engrandece seu cotidiano com sua arte de comentar a natureza. E tem humor também. “Quero parar seu avião!” É um artista de muita força, de vento e de tempestades.
Bruno Morais, sobre raios de luz
Vocês já sabem, o disco está no ar pra gente curtir.
Iara Rennó, musa e estrela de “Oríkì”, um show de arrepiar no Sesc 24 de Maio até domingo 28, às 18h
Iara Rennó é só luz pra mim. Amo cada show, cada uma de suas pronúncias. E este “Oríkì”, no Sesc 24 de Maio até amanhã, domingo 28, segue aquela maravilha de sua escrita, desta vez com uma narrativa sobre os orixás.
Com essa banda, com esse figurino, todo o esplendor
Tudo se encaixa. A banda é inacreditável e o figurino obedece a um outro mundo de beleza e significados. Não percam! Mas tenham paciência com o tratamento que o técnico de som deu a esta história. O som embola, é alto como se seu destino fosse a avenida, e frequentemente não compreendemos as belas letras. Corram lá, de todo modo, porque é preciso. Iara, parabéns! Iara merece. 💜
Roberta Gomes, Maurício Tagliari e Marco Mattoli na Biroska, em 2019
Mau, meu marido, era já amigo dele havia décadas quando finalmente o conheci, em um desses cinemas da avenida Paulista, em São Paulo, durante a première de “Mundo Cão”, em 2016. O estranho filme de Marcos Jorge inspirado em “Un Borghese Piccolo Piccolo”, de Mario Monicelli, embora ancorado na Globo Filmes, não faria sucesso algum.
Eu diria que Jorge, embora tendo estudado cinema em Roma, não havia absorvido o espírito frio como aço da commedia all’italiana, algo, cá entre nós, que seria muito difícil mesmo para qualquer um fazer. Seria preciso ter estado lá, naquelas duas décadas posteriores ao fim da guerra, sofrendo aquela Itália de um classe média sonegadora e pequena (alguma semelhança com o que acontece em outro tempo e lugar?), e além disso, estar munido das garras do socialismo crítico de Monicelli, para entender aquele tipo médio italiano que nem pequeno burguês chegara a ser.
Contudo, com toda a parcialidade possível, eu havia entendido que a trilha sonora composta por meu marido, o Maurício Tagliari, para “Mundo Cão”, com a participação do Marco Mattoli, dera a dimensão da malandragem que a ficção havia tentado mostrar sem conseguir.
Mattoli cantava ali com a bossa de um Wilson Simonal. Uma coisa propositadamente suingada, a evocar com muita beleza um cantor que a história não repete. E assim o filme ganhava o sal que sua direção (ou a produção de Daniel Filho) falhara em ter.
Em certo momento da première nos vimos juntos, Mattoli e eu, os sem estrela, presos num corredor, e ele que mal havia sido apresentado a mim começou a me falar de filhos. Do meu, que então estagiava no estúdio onde ele trabalhava… “Ele tem talento, musicalidade, é um menino muito bacana”, foi dizendo. Agradeci e comentei alguma coisa em relação ao conflito geracional que temos de enfrentar em relação aos nossos meninos, e ele começou a me falar da filha arquiteta, que tanto respeitava.
Pronto. Desde então, sempre me senti próxima dele, do modo como a gente sente um igual, embora nunca mais tenhamos conversado muito tempo sozinhos, e com tanta franqueza. Certeza que eu não fora a única com quem Mattoli dividira um momento assim, pois se uma coisa ele fazia como ninguém era tratar a humanidade como uma situação a seu alcance.
Em uma ocasião na qual desejava introduzir o Maurício ao imenso talento musical da compositora Roberta Gomes, por exemplo, cozinhou meticulosamente um macarrão a carbonara para nós, e eu notei pela primeira vez a seriedade por trás daquele sorriso. E ele só extravasou a enorme alegria de novo pra mim quando soube que eu tinha relação com a “Animal”, revista que ajudei (ou atrapalhei) o Rogério de Campos a fazer. Era um amante de quadrinhos. Liberatore!
Fui a muitos shows do Mattoli nestes últimos anos, do Clube do Balanço ao Samba do Marcos, ou àqueles de que participava como convidado. Bebíamos e ríamos muito depois. O último foi o show da big band Nova Malandragem, que ele produziu com Maurício para o selo Mundaréu Paulista, criado pelos dois. Que descoberta! Que músicos além de seu tempo! “Feliz com essa juventude, né, querido?”, eu lhe perguntei. E ele, sério, cabeça baixa: “Gosto muito também”.
Em maio fiz aniversário, convidei-o a almoçar com a gente, mas ele andava por uma Ilhabela ensolarada (ainda bem!), com sua linda Betânia. Não deu.
Meu italiano sambista, figura rara, tive tanta sorte em lhe conhecer! Você viverá para sempre na gente, como um pedaço de luz.
“O Canto Livre de Nara Leão”, série documental em cinco episódios pela globoplay, traz de volta o doce sabor das revoluções da intérprete na música popular
Nara Leão em 1964, quando gravou seu primeiro disco
O dia de ver o documentário seriado de Renato Terra sobre Nara Leão chegou aqui graças à oferta de uma amiga querida, assinante da Globoplay, e eu não poderia me sentir mais satisfeita com o presente.
Nara, que mulher para mim. Não pela voz, exatamente, mas que grande personalidade havia dentro dela para caminhar à vontade naquele universo imperativo dos homens, fingindo, ainda por cima, não fazer nada demais.
Quantas vezes ouviu que desafinava, que era desanimada e “mixuruca”? Muitas. Todas. Mas nos momentos em que ouvia isso parecia dirigida pela impetuosidade, uma espécie de teimosia da inteligência, esta que a tornava a um tempo graciosa (os joelhos de Nara, como brincava o Otelo Zeloni do programa humorístico “Família Trapo”) e plena de generosidade, a mulher de família bem de vida que sabia reunir, destacar, dividir e compartilhar seu talento. Mulher do desafio que nos últimos anos parecia esquecida, como acontece usualmente com figuras cruciais da arte brasileira.
Então, sim, eis o documentário “O Canto Livre de Nara Leão”, que tantos amaram. E entendo por quê. Ele a traz de volta aos nossos corações. Ouvi-la falar, em depoimentos no mais das vezes desconhecidos, como aquele ao Museu da Imagem e do Som, para Sérgio Cabral e Roberto Menescal, é uma aula de posicionamento. Uma figura pra lá de gentil mas também assertiva, a ponto de dizer a um jornal simpático aos militares de 1964 que o exército não servia pra nada, e com isso ganhar uma crônica de Drummond em seu apoio, além do abraço dos amigos em seu apartamento – o que felizmente bastou, além do apoio do pai advogado, para que não se visse presa por conta da declaração.
No célebre apartamento de Copacabana, com Tom Jobim e Ronaldo Bôscoli ao lado
Mulher complicada, como ela diz ao MIS, para que Menescal a apoie. E maravilhosamente única, desinteressada do profissionalismo e do sucesso.
O documentário contribui para iluminar essa Nara desconhecida. Sabemos por meio dele que a artista nem mesmo imaginou que se tornaria cantora – gostava mesmo era de cinema e achava que iria trabalhar nesse meio, no qual começou como montadora, ao lado do futuro marido, Cacá Diegues, com quem teria os filhos Isabel e Francisco. E quando, adolescente, destacou-se por manejar voz e violão no seu apartamento, começou a entender que seu papel no mundo da arte não seria só o de cantar, antes o de mexer no panorama musical a ponto de desvelá-lo e redirecioná-lo. Uma ambição maior que todas, certo? E que Elis Regina, a rival que não lhe atribuía talento vocal, também experimentou.
Com o produtor Aloysio de Oliveira (no alto), Carlinhos Lyra e Vinícius de Moraes
Neste documentário em cinco partes, Nara diz, com objetiva e usual sinceridade, que nos seus tempos de bossa nova não conhecia o povo brasileiro. E ao descobri-lo em sua porção de miséria e fome, por meio de Carlinhos Lyra, que lhe apresentara o morro de Nelson Cavaquinho e Cartola, começou a se deslocar do grupo. A bem da verdade, afastou-se dele de uma vez quando Ronaldo Bôscoli, a quem começara a namorar no apartamento dos pais, Jairo e Altina (célebre lugar diante do mar de Copacabana onde o movimento da juventude carioca começou), traiu-a com a cantora Maysa.
“Opinião”, em 1964, acompanhada por Zé Kéti e João do Vale
Bossa nova, espere sua vez! Zé Kéti e João do Vale se tornariam então tudo o que havia de melhor e com eles ela arrebentaria no show-teatro “Opinião” – este do qual desistiu também, depois de dois meses, por não ter estofo físico e se sentir nauseada justamente por seu sucesso. Foi ela quem sugeriu a substituta Maria Bethânia, que à época estudava recuperação para passar em matemática na escola.
Com Chico Buarque nos anos 1970, amigo de vida e de bom humor
Os melhores depoimentos sobre Nara, os mais deliciosos e esclarecedores, por anedóticos e bem-humorados, são mesmo, neste filme, os de artistas como Bethânia, que lhe aponta incentivadora e namoradeira, e Chico Buarque, que lhe fornece um perfil muito especial, em que o bom humor não coincide com o gosto pela piada e com a distração. Mulher séria que sabia sorrir, crava Chico, a quem acompanharia em sua fase posterior à do “Opinião”, com “A Banda”, ela ganharia a algo indesejada fama pop dos festivais.
Na capa do disco “Tropicália”, ela aparece num retrato exibido por Caetano Veloso
Depois de Chico, foi a vez da Tropicália; depois da Tropicália, os nordestinos feito Fagner; depois dos nordestinos, os gaúchos como Kleiton, secreto namorado; depois dos gaúchos, Erasmo e Roberto Carlos; e até morrer precocemente de um tumor cerebral, aos 47 anos, a companhia bossa-novista do violão de Menescal, sucesso no Japão. Com Nara por perto, qualquer novo movimento musical se redobrava em brilho, como se ela lhes desse chancela artística, quebrando padrões e preconceitos precedentes.
Nara e Menescal no Japão, anos 1980
Porém, o documentário em si tem muitos problemas. Com tanto BBB na produção – um Brêtas, um Boni, dois Bial, o Pedro ele-próprio, que se casou com Isabel, e seu filho José, neto de Nara – seria de esperar mais? Infelizmente, sim.
A série, no fim das contas, desfila a aristocracia musical do Rio e dá pouco espaço para além dela – mas Nara era nacional, com o gosto pelo povo em toda parte. No documentário, por exemplo, nem mesmo o bordão do Zeloni na “Família Trapo”, programa ao qual ela compareceu, é mencionado.
Em lugar disso, exibem-se fileiras de videoclipes do “Fantástico” de gosto duvidoso – em um deles, Nara canta a necessidade de viver “uma vida sem frescura”, na canção “Além do Horizonte”, de Roberto e Erasmo, espichada num iate… E haja Leda Nagle a entrevistá-la, com a explícita intenção de dirigir suas respostas.
Com Otelo Zeloni, joelhos à mostra, informação que a série não traz
Além disso tudo, nos surgem sonegados seu rosto de infância, muito sobre seu violão, suas preferências de instrumento e noções de estilo, o nome do violonista no primeiro disco, de 1964 (Geraldo Vespar), o fato de Elis ter-se casado com Bôscoli (o que explicaria melhor a rivalidade entre elas), mesmo o seu local de nascimento (Vitória, Espírito Santo), as datas em que nasceu (1942) e morreu (1989), a profissão do pai, mais sobre sua relação com Johnny Alf ao piano, onde se esconde Alaíde Costa em sua história, etc., enquanto frases e fatos inteiros são repetidos e salpicados pelos episódios, como se não tivéssemos tido condições de absorvê-los desde a primeira vez. A função “supervisão artística” é assinada por Pedro Bial.
Está certo que o final é belo, algo inspirado pelos deuses, e a gente dá muito valor ao que tem. Contudo, Nara Leão, como ela mesma queria, é assunto sério, sempre à espera de um novo exercício fílmico-historiográfico por meio do qual se possa ampliar.
Ontem estive triste demais até o momento em que o Mau me colocou de contrabando numa aula de Alessandra Leão na qual a convidada era ninguém menos do que Lia de Itamaracá, a “dona de Itamaracá”, como a Alessandra, criança, jurava Lia ser.
Em primeiro lugar, Lia nos contou querer que a pandemia passe logo pra ela se amostrar de novo, gente.
E em segundo lugar (pra não me estender nos terceiros e quartos), ela disse que a ciranda que faz, compondo letra e melodia ao mesmo tempo, sempre a partir do que o barulho do mar diante de si sugere, é poderosa a ponto de curar tudo.
Cantou “O Relógio” e as lágrimas caíram por trás dos computadores! E principalmente “Falta de silêncio”, na qual ela canta que ama “a falta de silêncio do mar”…
Foi tão profundo que não digo ter curado toda a minha dor ao ouvi-la, mas que ela me ajudou a sair daquele chão frio, sim, Lia me ajudou!
E me encontro aqui pra agradecer esta mulher maravilhosa, esta deidade em vida, até que possa vê-la outra vez pelo carnaval da avenida São Luís.
À direita sou eu, mal ajambrada depois das noites difíceis que antecederam minha qualificação para o doutorado, nos bastidores do Auditório Ibirapuera, em outubro de 2014. Comigo na foto estão minha querida Thaís, que faz anos hoje, minha cunhada Tânia e Ela.
Elza, como veem.
Ela cantaria “O meu guri” numa homenagem a Chico produzida por meu marido, Mauricio, a quem Elza se afeiçoou. E quem é de seu conhecimento e afeto, ganha beijinho na boca… A boca de meu marido foi muito bem beijada, calculem.
Porém, como eu não a conhecia, ela apenas pegou minha mão e a beijou. Ficou feliz de ser apresentada à esposa do Mau. Pude sentir sua pele então, macia como poucas.
Esta noite foi bem maluca porque, enquanto eu estava nos bastidores, sozinha, antes de os shows terem início, um homem grande se ajoelhou diante de mim e também pegou minha mão, para em seguida me chamar de “minha flor”. Será que porque eu tinha flores na estampa do vestido? Não sei. Não sabia de quem se tratava. Pensei sorrindo: artistas são mesmo assim.
Contudo, do fundo do palco de onde depois assistiria a todos os shows, vi que um MC chamava esse mesmo rapaz adiante. Percebi com assombro que se tratava de Criolo, no fim das contas. Não lembro o que o menino ajoelhado cantou. E não o procurei para pedir desculpas nos bastidores novamente depois, embora ele sorrisse pra mim o tempo todo, até no caminho de volta, para o táxi.