O mínimo de Jon Fosse

Não conhecia Jon Fosse, o norueguês que levou o Nobel de Literatura de 2023, e agora soube tratar-se de escritor e dramaturgo minimalista. Como é boa a internet às vezes, quando antes do café da manhã já se pode descobrir um dos livros do laureado traduzido ao inglês (Scenes from a Childhood, da editora Fitzcarraldo!) e improvisadamente fazer uma versão ao nosso português:

O MACHADO

Um dia o Pai grita com ele e ele vai até o depósito de lenha, pega o machado maior, leva-o para a sala, coloca-o ao lado da cadeira de seu pai e pede a seu pai que o mate. Como seria de esperar, isto deixa seu pai mais irritado ainda.

Um mar de sangue em uma ilha de sal

Ganhei da amada Lulina no meu aniversário. Demorei pra engrenar, embora seja tão direto e simples. Descrever o aborto, comparar o exame da gravidez com o da aids, essa secura, essa distância, irrelevância, tudo isso que nos torna humanos, esse exercício existencial pra nos fortalecer, é difícil, mas feito sem assumido desejo de perfeição, sem rancor. Tão bonita essa ilusão, tão francesa. Annie Ernaux acaba de ganhar o Nobel de Literatura, porque a autoficção nasceu pra vencer. Neste livro, a cada golpe corresponde uma tranquilidade. Um mar de sangue em que há uma ilha de sal. A tradução de Isadora de Araújo funcionou pra mim como um dez.