Dois sem-teto estão ao meu lado.
O negro aproxima-se de mim profissionalmente.
Não o vejo chegar ao caixa onde eu pago um sorvete.
E, quando lhe dou dinheiro, todos na padaria riem de mim.
O segundo sem-teto não me vê.
Magro, loiro, barba, cabelos ondulados e longos, olhos azuis que o transformam em uma espécie de Jesus de calendário, ele se ajoelha à volta da igreja São Luiz.
Eu é que me aproximo.
Dou-lhe dinheiro, muito pouco.
Mas não sei se ele quer meu dinheiro ou um milagre.
Dou-lhe dinheiro por não saber o que fazer.
Peço-lhe seu nome.
Não diz.
Não sei se ele quer meu dinheiro ou um milagre.
A voz treme.
Ainda não é uma voz.