calafrios e castigos

é difícil ganhar a vida, eu sei.

ninguém quer nos pagar por nada.

já fiz tanto trabalho meia-boca, ou não correspondente a meus sonhos, pra sobreviver.

mas algumas coisas você pode escolher não praticar e a alguns empregadores, não se submeter.

ademais, se seu rosto é identificável dentro do trabalho, ou sua assinatura, nos textos, convém pensar duas vezes antes de aceitar o trampo.

por exemplo, não fui trabalhar na veja quando convidada.

não tive estômago, embora houvesse sido funcionária da terrível folha antes.

mas na folha eu praticamente não assinava nada, era uma reles redatora no primeiro emprego em grande imprensa.

enquanto a veja me tornaria visível e representaria um passo pessoal em direção ao extremo ridículo dentro do jornalismo brasileiro, já àquela altura.

eu teria de ser reescrita mil vezes pela gryzinski, por exemplo, que achava meu texto “barroco”.

por que faria isso comigo?

sofria calafrios só de pensar.

(até hoje, nos meus pesadelos, o mario sabino me aguarda calvo e de sobrancelha arqueada em volta de uma mesa na editoria de cultura; eu me atraso muito para a reunião de pauta; sou submetida à inquisição no cadafalso entre as baias de fórmica).

não me venham dizer, então, que o ator contratado como protagonista pelo padilha é um desavisado.

ou que desconhece por inteiro o que o padilha vai aprontar com o material filmado a partir de sua atuação.

sabe sim, ou tem uma ideia robusta do que vai acontecer no fim, e precisa aguentar.

porque o dinheiro pode não ser compensação à altura para o crime que vai cometer…

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