Sei lá, gente.
Os penteados dos brasileiros de origem negra sempre foram importantes para o futebol.
Não só penteados, maquiagem também.
Pó de arroz vem disso: alguns jogadores brasileiros maquiavam a cor da pele pra ser aceitos pela sociedade racista e violenta que prestigiava os jogos.
Ou seja, faziam-no para simplesmente sobreviver.
Porque, pasmem, nem sempre os brasileiros negros foram autorizados a jogar nos campos profissionais.
O Vasco furou o bloqueio nos anos 1920 e se deu bem.
Era preciso então exercer um certo disfarce se você fosse negro e se sentisse apto ao futebol no Brasil.
Quando o faziam, no início, os jogadores também batalhavam pelo direito a comer o café da manhã (pão com manteiga e café com leite) todo dia no clube.
Ainda assim, a torcida jamais perdoaria seus mínimos erros.
Barbosa, o goleiro negro de 1950, pagou em vida pela derrota contra o Uruguai, embora não tivesse sido o responsável por ela.
Pelé se irritava quando o chamavam de chiclete de onça. Mas eis como ele era: um insulto desses o fazia pensar ainda mais rápido que os outros.
Quando ostenta seu yakisoba na cabeça, então, o Neymar não esconde de onde veio.
Ele age como seus predecessores, que botavam banha pra alisar os cabelos e se ver livres desta, digamos, marcação social.
Com os cabelos assentados, sentiam-se dignos de pisar em campo, quase brancos a pairar sobre as diferenças…
Um deles até destacou que fora negro “antes”.
Hoje, nossa calopsita de frente leva dois cabeleireiros pro mundial.
É uma afirmação de poder, talvez inconsciente, contra as marcas de uma escravidão prolongada. Mas Neymar e Ronaldo Fenômeno agem como se não se dessem conta do sofrimento de seus pais. Nem devem achar que “foram negros antes”.
Isto talvez porque o futebol seja aquela escada rápida, praticamente um elevador, contra a invisibilidade. E o talento tenha colocado esses dois num atalho rápido para as adulações.
Problema deles, infelizmente.
Tudo isto pra dizer que, segundo entendo, o jogador tem direito de fazer o que quiser com sua cabeleira.
Não censuro penteados nem me emociono com as charges sobre o mesmo tema.
Alguns cabelos do futebol são mais que lindos!
Os do Maldini, os do Afonsinho…
Em campo, todos sabemos que não necessariamente a adoção de um luminoso capacete prussiano fará qualquer jogador ganhar a guerra contra os franceses.
Quem dera pudéssemos entender uma coisa de uma vez por todas.
Futebol é menos gel que batalha, menos lágrimas que sangue.