Doze anos nesta noite

Meu oxigênio mental para filmes históricos paira no passado, no que fizeram inúmeros grandes diretores como Vittorio de Sica, Akira Kurosawa ou Costa-Gavras. Eu não era espectadora, nem gente, quando suas principais obras se deram, mas a admiração, a observação constante e o estudo retrospectivo tornaram essas peças um pedaço de mim. Com elas me emociono, respiro. Elas me dão a estética invencível, as palavras inesperadas, as grandes atuações.

Vai ver que apenas por isso, eu, chorona assumida, não derramei as lágrimas pretendidas em “Uma noite de 12 anos”, de Álvaro Brechner. Mas é sem dúvida um belo filme, bem atuado, fotografado, sonorizado, escrito.

Mais que um belo filme, trata-se de uma experiência social e cultural, uma emoção que a gente tem o privilégio de compartilhar ao assisti-lo naquela sala 1 do Espaço Itaú Augusta.

A meu lado, na última sessão de hoje, uma espectadora de seus cinquenta anos “conversava” o tempo todo com o filme, quase se levantava da cadeira várias vezes, inquieta com a situação opressiva ali representada, e arrebentava em lágrimas no momento em que três presos uruguaios, entre eles Pepe Mujica, depois de anos de bárbaro confinamento, sentiam a luz do sol no pátio da prisão.

“Lula livre!”, puxou a mulher após a sessão, e foi muito aplaudida pela sala cheia. “Ele não!” respondiam em torno. “Resistência! Vamos resistir!” Mais aplausos, veemência.

Nem dava vontade de deixar a poltrona.

Aquelas raras pessoas, todas elas, queria eu que estivessem para sempre comigo durante o temporal.

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