Nunca trabalhei numa redação livre.
Nossas opiniões como jornalistas e mesmo nossas apurações, se em direção contrária aos interesses do dono, nunca existiram no meu Brasil.
Só para dar um exemplinho tosco, não pude publicar grande matéria sobre uma exposição do David Bowie na última dessas redações em que trabalhei.
(O dono não gostava do Bowie e isto bastava, entendeu?)
Nós apenas tentávamos passar a notícia, ou nossa consciência sobre a verdade dos fatos, por debaixo do pano, meio que distraindo as feras.
E sempre pareceu insulto aos patrões que um jornalista tivesse preferências políticas diferentes daquelas da direção.
Na Folha, durante a entrevista de seleção, tinham esse interesse salivante em saber se a gente era filiada ao PT.
(Outra tosqueira pra vocês entenderem o joio nesse trigo todo).
Nunca trabalhei numa repartição pública.
Mas fico pensando que numa redação de estatal escrevemos para todos os brasileiros, pagos por todos eles.
E que não caberia então vigiar preferências políticas pessoais de profissionais habilitados a informar, muito menos demiti-los apenas por preferirem aquele partido a este.
Mas é só uma impressão minha mesmo enquanto espero o exame de sangue sair.
Até porque o jornalismo, né.