“Masters in Short”, presente na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, costura homenagens ao cinema silencioso

Este filme de episódios, em sua maior parte, homenageia o silêncio dentro da arte. Uma homenagem para lá de justa, já que se tem privilegiado a palavra no cinema e deixado para segundo plano o movimento, seu sentido. Masters of Short seria essencialmente harmônico das origens cinematográficas não houvesse a seu término, em “Escondida”, as palavras sem fim do diretor Jafar Panahi. Mas estas operam numa constância tal que até nos fazem esquecê-las… Curioso perceber como, por meio delas, ao observar o movimento dentro de um tradicional automóvel iraniano, operamos na vibração mágica dos mudos.
Como todo filme de episódios, este é irregular e diverso. Começa Jia Zhangke com A Visita, uma graça rápida sobre a hesitação do toque na era pandêmica, relembrando a ação das duplas cômicas que aperfeiçoaram o cinema silencioso. Depois, com “O Adivinhador” e “Os Caçadores de Coelhos”, de Guy Maddin, Evan e Galen Johnson, nos vemos diante de mínimas superproduções que escancaram a paródia aos filmes monumentais do início soviético, em suas situações de comicidade e sonho.
“Uma Noite na Ópera”, de Sergei Loznitsa, parece ser o experimento mais radical e minimalista do filme. Em seu curta, o diretor edita os telejornais antigos que registraram, silenciosos, os momentos a anteceder um concerto de Maria Callas na Ópera Nacional de Paris, em 1958. Ao teatro acorrem, banhados em flash e sorrisos, as estrelas da época, Charles Chaplin, Brigitte Bardot, Grace Kelly e Rainier, Charles De Gaulle, a rainha Elizabeth e Philip… Loznitsa nos coloca dentro do teatro, mas, principalmente, de um tempo. E somos presenteados com a voz mixada de Callas ao fim.
Não bastasse esse sonho memorial, o belo encerramento de Panahi evocará a tragédia feminina e presente da mulher iraniana, escondida por trás de um pano, mas ainda viva.
Masters in Short
Vários
2020
1h11