Oração

Há nove meses desvisto as roupas que tenho, senhor.

A cada dia mais distante de mim, daquilo que conheço e entristeço, vejo que a liberdade não é azul nem vermelha, a liberdade é pequena.

E nem os sapatos me servem mais.

Só os vestidos, largos e raros, movem-se para me esconder.

Há nove meses deixo que meus cabelos cresçam e dupliquem suas pontas.

É o melhor que tenho feito para multiplicar as coisas.

Olho pelas janelas sujas onde os reflexos fazem poesia.

Um deserto para os sonhos que tive, e não procuro o futuro.

Jamais soube obedecer.

A cada dia mais ocupada em aprender o que já vi, o que já sei e o que pisou em mim, sigo voltada para dentro do que sou, e amém.

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