tem horas, como agora, que é duro pensar no que somos, todos nós, um a um, neste momento que gira nossas cabeças.
tristes, cansados, brasileiros, bêbados.
(e minhas costas doem.)
em que dimensão nos jogaram, Doug? onde o túnel foi parar?
hora de dormir, e não consigo desaparecer.
essa tragédia que não ensina nada a ninguém não sai diante dos olhos, entra pelos sete buracos da minha cabeça, essa presença, essa ausência.
estava assistindo a “La ronde”, do Max Ophüls, 1950, e de repente a bicicleta no carrossel (sim, havia uma bicicleta no carrossel) girava e girava e me ligava diretamente aos ciclistas da rapi andando sem máscara.
“La ronde” é uma ciranda de amor, uns contos de amor entrelaçados em que um cavalheiro se segue a outro em sua perdição amorosa cotidiana, e as mulheres são irônicas, e os ridicularizam, pois nada mais podem fazer, e todos voltam ao mesmo lugar…
Estruturas de sonho de Arthur Schnitzler, o autor da peça de origem.
(Prazeres tolos: é a tolice, não o prazer, o pecado.)
Há um momento em que um desses homens se torna risível ao lado de uma mulher casada na cama – e sabemos disso porque lá fora um fusível do carrossel pifou.
me senti aquele fusível!
e ele também, o personagem, é claro. ele cita stendhal pra dizer que amor demais pode derrotar… mas ela só levanta os grandes olhos, pobrezinho, não foi desta vez.
divertida essa peça de Arthur Schnitzler, a gente supõe, tanta coisa inventiva que o Ophüls faz a partir dela. O muito com tão pouco, os reflexos pela janela num cenário repleto dos badulaques burgueses, mimos e cristais! Vejo hoje que as comédias italianas citaram tão bem esse estado de coisas, que Buñuel, que não é bobo bem nada, foi atrás disso no anjo exterminador.
Essas iluminações rosíneas me alegram, às vezes é tudo o que eu tenho de meu, mas não, agora não, nada me traz paz.
depois do filme, é preciso mais uma percorrida no celular (quem mais nos engana, quem agora nos quer mal?), mais um texto, mais um poema, ou nada vai acontecer.
ciranda, carrossel, cavalo, bicicleta…
estamos sós!
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