Wishful thinking

Vocês se consideram já um tanto acabados?

Eu sim, louca pro ano ter fim, embora essa divisão do tempo me pareça um tanto nada, e eu me sinta outra não exatamente passados doze meses, mas vários anos, pessoa de décadas que sou.

Neste momento sinto aquela exaustão em relação a temas e tentativas de inserção. A gente escreve, a gente participa, a gente acredita, a gente quer que nossas ideias cheguem àquele capaz de acolhê-las… Por que não desistimos, simplesmente? Vocês são assim, tenho certeza, muitos de vocês como eu, cansados dessas tentativas.

Vou mudando. Sinto que despistei os algoritmos e não fico sabendo, pelas redes sociais, de toda nova calamidade política. Muitas vezes espero o dia amanhecer, que é quando tenho energia para enfrentar a distribuição dos ossos, e tudo fica melhor.

Ocasionalmente decido acompanhar por aqui uma superfície que atinge a todos, filmes e programas de televisão cuja autoria é no mais das vezes difusa. Quem dirige o Roda Viva daquele jeito? Quem concebeu “Não olhe pra cima”? Dá pra dirigir o Adnet?

Tudo o que acontece, ou quase tudo, neste mundinho a que estamos condenados, me parece denunciar sua cara de produto, nada tão incrível que ostente notável autoria ou possa desfazer um olhar antigo, um rótulo. Mas, ainda assim, se tudo toca as pessoas tão intensamente, tenho de procurar entender a razão coletiva.

Vício meu?

Vício meu.

Porque a rede social é meu fusca, não meu trem. Estou aqui para falar de perto, não distante. Vocês são um, não mil.

Quando eu escrevia sobre essas diversões na imprensa, enfrentava a dificuldade de não pensar como os outros, visto que os repertórios individuais dos receptores variavam mesmo. E tudo se agravou com a chegada da internet, onde o interlocutor desconhecido parecia colocar o nariz no meu vidro…

Muitos colegas se deram bem com isso, ou exatamente por isso, pois já nasceram no braço-abraço das gentes, dançando a partir de sua visão comum. E eu não, muito invisível até mesmo pro meu gosto, rs.

E agora que me sinto relativamente livre disso, de fazer essa intermediação entre a informação e o público, às vezes mergulho nesta rede social para deparar com quem leve tudo a sério demais e me cobre que eu seja uma espécie de espelho.

Quando se escreve rapidamente aqui sobre um filme, escreve-se sobre si mesmo a partir de um filme. Então, se você não quer se expor desse jeito, aconselho a piada curta, a observação sacana, a charge! Qualquer coisa que possa livrá-lo desse carregamento.

Quem sabe tudo esteja a caminho da mudança e essas relações líquidas se tornem melhores, num novo compasso? É o que vou desejando pra mim e pra vocês, nós que vivemos de desejar o inalcançável, o belo, o justo, o bem.

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