Ele estava próximo de uma academia de ginástica e o rosto era inchado, vermelho. Embriagado crônico, fácil perceber, mas acreditei não se tratar de um sem-teto, pois os tênis pareciam bons, até lustrosos. Então ele apenas bebia com os amigos, quase na sarjeta.
Eu passei colorida, bata e calça, os cabelos brancos soltos, carregando sacolas de supermercado. Ele decidiu dizer:
– Ficou muito elegante, senhora, mesmo!
Sorri por baixo da máscara, continuei andando. Mas ele me seguiu e parou na minha frente:
– Desculpe ter falado assim, mas a senhora está elegante mesmo, olha, vou dizer!
– Eita que eu acredito no seu julgamento, hein?
– Senhora, eu não julgo ninguém!
– Ah, que bom. Mas se sou elegante, vc é mais. Gostei das tattoos, da pulseira de couro larga. E essa bermuda cargo com a regata Suicidal Tendencies, tudo preto, ficou massa.
– Eu não sou elegante, sou um perdido! Mas a sua elegância está demais. Sabe Highlander? Highlander, eu juro.
Não entendi bem. Talvez eu precise mesmo pintar o cabelo e cortar. Mas o fato de alguém ter me percebido na rua me deixou surpreendentemente alegre. Me despedi.
– Meu querido, obrigada, fique bem, ganhei o dia!