Eu só sei que, como já contei a vocês, a Folha me perguntou se eu era filiada ao PT antes de me contratar como jornalista, décadas atrás.
Entrei para trabalhar lá e constatei que a liberdade de empresa vinha antes daquela de imprensa na redação. Por exemplo, não podíamos noticiar qualquer fato que prejudicasse a imagem de um banco – além de anunciarem no jornal, os bancos eram mentalidades irmãs, às quais se devia servir.
Então não estranho que demitam o Jânio de Freitas agora. Estranho mesmo é que tenham deixado ele ficar no jornal até hoje.
As demissões foram muito mais do que as anunciadas ontem. Elas ocorreram depois que a direção apresentou aos jornalistas um plano de demissão voluntária.
Demissões ocorrem ali todo ano, há muito tempo. Alegam prejuízos e aproveitam pra se livrar de quem não interessa. Neste ano demitiram tanto Jânio e Marilene Felinto, por exemplo, à esquerda, quanto Sylvia Colombo (muito próxima de Otávio Frias Filho, que afinal morreu), cada dia mais à direita. É jornalismo o que não parece mais ser muito bem-vindo por lá.
Isto porque a Folha não responde mais prioritariamente pela renda familiar. Luís Frias, um dos herdeiros, dono do PagSeguro, é a 12ª pessoa mais rica do Brasil, com uma fortuna estimada de 25,2 bilhões de reais, de acordo com o ranking de bilionários da revista Forbes em 2021. No PagSeguro, estima-se que sua parcela seja de 3 bilhões de dólares. Isso se deve em especial ao peso majoritário que ele tem no Universo Online S.A. (UOL), uma das frentes do Grupo Folha.
Jornalismo parece existir pra ele só pra pressionar o governo rumo à satisfação de seus interesses comerciais. Em 2019, um ano após a morte do irmão, o diretor de redação Otávio Frias Filho, ele depôs toda a diretoria e afastou a irmã Maria Cristina Frias do comando, colocando Sérgio Dávila no lugar. Deu errado com Bozó, mas ele teria preferido que se dessem bem – vocês devem se lembrar da célebre cara feliz de D’Avila num almoço com o Verme, no começo do mandato.
Tenho pra mim que vocês vão continuar lendo a Folha, até por falta de opção. Eu já desisti faz tempo, mas consigo entender que não a abandonem. Seria muito bom se houvesse um veículo de informação bastante confiável mais à esquerda no Brasil, com abrangência de apuração. Mas não há. Resta que leiamos jornais muito parecidos em sua ira santa contra o PT e o mínimo progressismo, buscando a verdade nas entrelinhas.
Certa feita, Al Pacino, meu ator interpretando jornalista no filme o Informante, pergunta ao seu Diretor da Tv onde o jornalista trabalhara: “Se eu fizer o que tu manda e dedurar o meu informante, o que vou dizer para o próximo informante? Esse era o jornalismo que fazíamos aqui. Não sei trabalhar diferente. E vou embora.” Eis aí a essência do Jornalismo! Recomendo ver!
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Infelizmente nossa imprensa é toda direitista. Mas não a abandonamos totalmente. Só precisamos saber filtrar. Muita crueldade o que fizeram com o Lula. Não agora. Já que ele se tornou a única opção contra o miliciano bandido (pior presidente que o Brasil já teve).
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