
“Quando Pasolini refere-se à burguesia, não se refere tanto a uma classe social, mas ao surgimento de uma ‘nova categoria do humano’. Qual categoria? A do homem outorgado como consumidor, do homem que dessacraliza o mundo. Por isso Pasolini afirma que burguesia e religião são antípodas: não existe burguês que possua um autêntico sentimento religioso. Burguesia e religião são antípodas porque a ‘mutação antropológica’, gerada pelo novo fascismo, suprime o sentido próprio do sagrado, resumindo o mundo, como diria Heidegger, a mera fonte de recursos que a razão pragmática deve explorar e dominar, sendo a burguesia portadora de um ‘hedonismo neolaico, cegamente alheio a todo valor humanista’, que reduz o sentimento religioso a um estéril código de comportamento.”
Em “Pasolini – O Fantasma da Origem”, de Massimo Recalcati, trad. de Cezar Tridapalli.