“Walden”, da diretora tcheca Bojena Horackova, presente na Mostra Internacional, revisita a burocracia distópia da Lituânia nos anos 1980 por meio do desenvolvimento de um amor adolescente

Tanto a história não se destaca excessivamente neste filme que seu final é antecipado em inserções sobre a vida de um dos personagens, vindo da França para a Lituânia trinta anos depois. Parece interessar à cineasta tcheca Bojena Horackova que recuperemos junto a esse protagonista o que ele sentiu, a simplicidade vivida na adolescência, e entendamos por que ela ainda o atrai. “Walden” vai e vem na cronologia, incerto sobre se os dois protagonistas viveram um enlaçamento por amor ou pelo desejo de fugir do stalinismo.

Adolescentes de Ensino Médio, Jana e Paulius se encontram pela primeira vez na pista de patins de Vilnia, na Lituânia dominada por burocratas nos anos 1980. Ele joga hóquei, ela nada na piscina. Ele é um outsider destituído de utopias que faz câmbio ilegal com alemães para adquirir os objetos de consumo que julga importantes, uma bicicleta e um carro, e ela, filha de médico, uma das primeiras da classe, começa a trilhar seu caminho. Paulius já escolheu que vai transigir, Jana acompanha-o com seus olhos grandes. Um dia entram num lago dentro da floresta, que o tio de Paulius apelidou de Walden, e pensam se esconder do mundo.
É uma trama nada intrincada. E faz desse “Walden”, que jamais cita diretamente a obra homônima de 1854, escrita por Henry David Thoreau em recusa à industrialização e à urbanização, uma gargalhada triste e distópica. A fotografia, que tem a participação de Agnès Godard, a fotógrafa de Wim Wenders, propõe algum brilho em meio à aridez que a juventude desse tempo precisa enfrentar.

Walden
Dir.: Bojena Horackova
França, Lituânia
85 min
2020