
Os atores japoneses Toshiro Mifune, Takashi Shimura e Bokuzen Hidari encontram-se aqui em uma sequência de “Escândalo”, filme dirigido por Akira Kurosawa em 1950, mesmo ano em que realizou “Rashomon”.
“Escândalo” é um deslumbre, especialmente pela atuação de Shimura como um advogado corrompido cuja filha, à morte,
representa a porção angelical de um universo em declínio. É o pintor Mifune quem acredita nesse advogado e quem, contra todas as expectativas, vê nele o homem bom para representá-lo no processo contra um periódico que mentira sobre seu suposto romance com uma cantora.
O quarto poder, enlameado, contra a criatura comum! Como é bonita, nesse período, a discussão em torno da ética jornalista… Mas aqui Kurosawa faz mais do que analisar o exercício moralmente indefensável do jornalismo (aparentemente, o próprio diretor tivera a honra atacada por um mau veículo). Ele não constrói apenas um drama moralista, mas existencial, a pontuar a crença numa porção rara e boa da humanidade, mesmo depois de uma guerra que tudo fizera para desacreditá-la.
O drama é urbano e contemporâneo, contra a novelização das vidas sob a imprensa. Para promover essa crítica, ele se serve da base hollywoodiana de representação, plena de closes de estúdio. Deseja criticar o sistema servindo-se de sua própria linguagem, mas não só… Além de megulhar o drama existencial numa ambientação cômico-dramática, na linha do cinema de Frank Capra, Kurosawa nos surpreende com simulacros expressionistas extraídos de cenários fabricados e sombrios.
Um show cinematográfico no qual o diretor japonês exerce a velha-nova procura pela redenção das vidas humanas, ele que parece tê-las investigado em todos os seus rumos.