Fui percorrer Irving Penn cheia de esperança e voltei cabisbaixa.
Admiro seus retratos, mas a experiência da exposição no IMS-SP me cansou um pouco.
O trajeto, retrospectivo de seu centenário de nascimento, parecia apresentar o autor em ângulo idêntico.
Ou seria má decisão curatorial, mesmo, repetir suas imagens…
Tudo mastigado e desvitalizado.
(Seus torsos e cigarros eram estudos, porém quase apresentados como colecionismo. E quem precisa de mais fotógrafos-colecionadores?)
Uma natureza morta bem morta.
E o tão citado retrato da Audrey Hepburn me assustou.
Um tal de torcer o retratado e submetê-lo a um esquema!
Audrey Hepburn, 1951
Mas pelo menos a Audrey riu dele, um sorriso com estranhos lábios de palhaço.
Gostei muito de algumas imagens, contudo, especialmente as placas e sombras que ele perseguia no começo.
Em 1941
Adorei ver seus personagens já esquecidos pelo contemporâneo, como T.S. Eliot, Balthus, Carson McCullers ou Spencer Tracy.
Carson McCullers, 1950T. S. Eliot, 1950Balthus, 1948Spencer Tracy, 1948
Interessantemente obsessivas suas geometrias em V!
No mais, penso que Penn, ele mesmo, se cansava de fazer tudo tão igual e ia ao laboratório se divertir, turvando as imagens com novas camadas de química, como mostra uma sequência interessante exibida lá.
Saí do IMS querendo esfumaçar eu mesma todas as imagens do artista.
Flamejar?
O público de hoje era majoritariamente da moda.
Parecia desconhecer que tudo aquilo teve um antecedente com grande frescor, como a obra de Martin Munkacsi, suas modelos no ar, ou de August Sander e seus retratos de açougueiros, de homens em suas profissões (que Penn refaz de maneira caricatural, um procedimento constante, aliás).
Quase interrompi uma conversa de apreciadores que viam pioneirismo na exposição inteira, mas disse a mim mesma: “Menina, quieta, como assim?”
Tudo parecia carecer de movimento.
E eu me sentia meio claustrofóbica.
Mudou o Natal ou mudei eu?
Vou de German Lorca logo mais e espero viver a alegria de sempre.
Não percam o Carlos Moreira na galeria Utópica, hein?