Chama-se Fiscal de Táxi.
Diante do hipermercado Extra, é ele quem cuida da fila e encaminha as compras dos passageiros ao bagageiro dos motoristas.
Deve ter uns 58 anos.
Mas pode ser mais, 60.
Negro, alguns cabelos brancos.
Um homem sereno, naturalmente elegante, educado.
Foi bonito na juventude, me pego a imaginar.
Nunca sei que gorjeta dar a ele.
Toda contribuição me parece irrisória, como se ele a aceitasse por gentileza de caráter.
Hoje a fila está grande por conta do EleNão na Paulista.
Os táxis demoram a voltar.
De repente chega um, esbaforido.
“Muito movimento lá?” – pergunta o fiscal ao motorista, enquanto abre o bagageiro.
“Uma confusão!”
“Caramba.”
“Imagine isto. Descobri que o Haddad está usando o verde-amarelo.”
“Como assim?”
Riem-se.
Quase parto pra cima, lembrando que o verde-amarelo é meu também.
Mas não falo nada.
O estômago muda de lugar.
Nem quero pensar no que aconteceria se fosse minha vez de entrar naquele táxi.
Não sou de ferro.
Acuso vocês.