acordei de um pesadelo.
minha antiga insana patroa morava comigo.
e eu não conseguia tirá-la de casa.
(lá onde eu vivia com uma porção de gente.)
somente eu sabia quem era aquela mulher de fato.
minha família a tratava bem porque não atestara seus malfeitos.
meus mínimos gestos, vestuário, cabelo, bijus, tudo se tornava objeto de seu sarcasmo quando estávamos sós.
“mas ela só está brincando. ela é de esquerda, ela é do bem”, argumentavam os próximos, se eu reclamasse.
a certa altura eu abria a porta da casa.
ventava.
e na calçada a mulher ria feito gralha diante do witzel, a quem, submissa, solicitava o revólver.
eu sabia que vivia uma ditadura.
mas minha família não tinha como saber.