Convescote de sinhás

De 2017

Vestiário da academia de ginástica. A senhora mais idosa e respeitada (família rica e educação) toma a palavra.

– Acho o Brasil um país cruel. O brasileiro é brutal.

Estou me enxugando, paro pra ver se vale a pena entrar na conversa. A senhora, que não se importa de usar colares enormes, pesados para sua curvada coluna, fez uma observação sagaz. Talvez eu tivesse algumas coisas a dizer, mesmo assim, de sutiã. Eu acho que somos violentos de fato, emocionais (isto era o que o Buarque de Holanda queria dizer com cordialidade), herdeiros da escravidão prolongada, poços de preconceitos e lentamente forjadas discriminações, etc. E precisaríamos entender que…

Ela é mais rápida que meus pensamentos.

– Por sermos violentos, deveríamos contar com penas mais duras para os criminosos.

Ata.

Uma outra senhora toma a palavra aos gritos. Ou tem a voz estridente e eu não havia percebido. Em todo caso:

– Lá no Oriente eles cortam a mão do ladrão. Cadê a pena de morte?

E, a partir daí, um concerto paulistano das iras sabidas.

Ainda bem que, como de uso, dou um boi pra não entrar nos convescotes das sinhás.

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