Filme-sensação

Este longa de Chantal Akerman permanece por tempo indeterminado na plataforma de streaming Mubi, e você não deve perdê-lo. Na resenha a seguir, que fiz a pedido da página “Histórias de Cinema”, explico por quê

loucura de almayer

Stanislas Merhar em “A loucura de Almayer”, de Chantal Akerman, a partir de obra de Joseph Conrad

O que é a dor?

A dor é o que não passa.

Talvez todo o cinema de Chantal Akerman (1950-2015) seja sobre esta constatação. E seu penúltimo filme, “A loucura de Almayer” (2011), baseado em obra de Joseph Conrad, multiplica-a porque a encara literalmente.

Seus longos, intrigantes e muito bem iluminados planos-sequência repentinamente se transformam em um só, fixo, como se fosse vetado à câmera andar, como se ela pesasse mil quilos, como se estivéssemos nos primórdios do cinema e no fim da aventura sobre o palco, o drama do ator.

Este filme é a diretora e seus personagens, os olhos perscrutadores que ela esconde na mata, e a mata: a chuva que se adensa sobre o rio de tal forma que nós, espectadores, também a sintamos. A epítome do filme-sensação.

O protagonista, interpretado por Stanislas Merhar, é um comerciante que imaginou fazer fortuna na Malásia, e na Malásia se afundou, com uma mulher nativa não desejada e uma filha mestiça (a Nina de Aurora Marion) a quem venerou sobre todas as coisas, desejando a ela um futuro europeu. O lugar distante, planejado paraíso, não mudou seu etnocentrismo, seu racismo, sua insensibilidade. Ele sai dessa confusão ainda mais dolorido, ou, como quer Chantal, de fato enlouqueceu de amor.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s