
Esta é minha mãe num congresso de farmacêuticos nos anos 1950. Por muito tempo ela foi mulher quase solitária a praticar seu saber. Gostava muito de trabalhar dentro de seu ofício, mas a demitiram grávida de mim, sem qualquer pudor ou lei para protegê-la, logo na década seguinte. (Também quase nasci em pleno voo, mas depois conto isso melhor pra quem se interessar).
Minha mãe era do tipo que não me queria envolvida em namoro, que jamais me preparou um enxoval. “Não pense em casamento. O estudo é a única coisa que importa”, me disse, na contramão do que as outras mães faziam naquela época. E eu entendia seu porquê na prática. Sem trabalho, ela, a única entre as irmãs a se formar na faculdade, era triste – e nós, muito pobres.
Não sei se em razão do que ela sempre me aconselhava, mas jamais na infância me visualizei vestida de noiva, casada ou com filhos. Vai ver que por isso mesmo casei (me juntei) e tive filhos… Foi o natural, o não-iludido, a incrível surpresa em minha vida.
Mas eis o que considero importante em minha mãe, cuja relação comigo sempre sofreu alguma espécie de tensão, mas por outros motivos. Tenho razão para admirá-la. Ela me deu sem saber a primeira grande aula de feminismo da vida. E hoje, porque essa mulher andava a seu modo na contramão, sou feminista com um orgulho que só.