
É dia de Natal.
E Bruno Covas transforma a região encravada no centro da outrora bela cidade num pesadelo semelhante ao de Morte em Veneza, não o filme de Visconti, mas a novela de Thomas Mann, na qual o odor da peste é constante pelos recantos, pontes, pelo líquido dos canais.
Contudo, prolífico na alquímica distribuição de seus talentos, esse meio homem-meio sepultura transforma o lixo em coisa ainda mais dispersa e obrigatória, como os confetes na folia carnavalesca, deixando que toda espécie de descartados saia irresistivelmente dos sacos pretos pelo cães que são homens e pelos homens que são cães e proporcione à gente sozinha, em meio à tétrica decoração de ursos noeis e balões do pateta no Anhangabaú inconsolável, um isolamento compartilhado dentro da maior miséria até hoje verificada por mim naquele lugar.
O aumento de salário que Covas se deu e a seus secretários deve ter ocorrido justa e especificamente por esta sua imensa capacidade extraliterária de tocar a morte, já tão lendária porque inserida na alcunha familiar, e agora reiterada pelo voto, pelo enganar-se e o querer desfazer-se, que é o que a população parece pedir, desejar, o suicídio antes que seja tarde demais.