Sonhei que minha máscara diminuía, escorregava e aos poucos não cabia mais no meu rosto. Mas eu continuava andando assim mesmo, porque estava atrasada pra trabalhar. Como de uso, nos meus sonhos recentes, ninguém na rua via necessidade de se proteger, descobertos e felizes.
Eu chegava ao prédio do trabalho e entrava num elevador que era como uma ampla área de primeira classe numa aeronave. Me sentava numa poltrona do corredor. Ao meu lado, um jovem assistia a um filme erótico sem se importar com minha presença. Eu não saía da poltrona porque estava muito cansada e não havia outros assentos vagos. Mas me encostava no lado oposto dele, distanciando-me do rapaz, pra ver os rostos de quem ocupava o grande elevador/avião.
Em um dos assentos da frente, sentado no braço da poltrona, estava o Billy Porter, de “Pose”, vestido de branco com um véu de noiva, ao lado de Mos Def, vestido tranquilo. Eu queria me aproximar para pedir um autógrafo ao Billy – mas, se fosse até lá, essa não seria eu.
O sexto andar nunca chegava. Eu estaria presa nesse elevador? Billy Porter reclamava de fome.
Quando finalmente o elevador chegou ao meu andar, as portas se abriam para um estacionamento labiríntico. Eu descia nele mesmo assim e só encontrava a entrada porque sabia de um importante sinal à porta, a estátua brilhante de um orixá indefinível.
O lugar onde eu trabalhava era uma redação indiferente e praticamente vazia. E eu me perguntava por que correra tanto, enfim, e principalmente por que saíra do elevador sem o autógrafo do Billy.