Filmes no Festival de Cinema Italiano navegam em torno do humorismo de reflexão




Não sei se sabem que fica em cartaz até 4 de dezembro o Festival de Cinema Italiano. Gratuito, no streaming. Muita coisa realmente boa está ali para ser vista desde o sofá. Como se trata de festival italiano, não perca a retrospectiva. Não há só Visconti, o soberbo, com “O inocente”. O riso clássico tem seu espaço aqui.
Encanto, assombro, grotesco, reflexão, eis alguns ingredientes da comédia à italiana. Um cinema sobre perdedores, enganados, pequenos, esquecidos. Cinema direto, emocional, feito de autoderrisão. Meu cinema…
Bem poucos, mas importantes filmes dessa linhagem cômica estão no festival. Dois deles, de Dino Risi, são conhecidos e bem-sucedidos em épocas diferentes: “Pão, amor e…”, com Sofia Loren e Vittorio de Sica, e “Venha dormir lá em casa esta noite”, com Ugo Tognazzi e Ornella Muti (e uma curiosa tradução para o título que em italiano significa “A alcova do bispo”.) Ironista implacável e pleno de musicalidade, Risi se formou médico, mas trocou a carreira pelo cinema por se ver incapaz de curar…
O terceiro dos filmes é o raramente visto “O mal obscuro”, de 1990, com roteiro dos espetaculares Suso Cecchi D’Amico e Tonino Guerra para o livro homônimo de Giuseppe Berto (editora 34). Dirigido por Mario Monicelli, o filme encontra o humorismo na situação extrema vivida por um escritor que sintomatiza seu terror psicológico. O protagonista é vivido pelo Giancarlo Giannini estupendo de sempre. Eis um ator para qualquer papel ou dialeto, com sua extensão física e intensidade expressiva. Que face perfeita para vestir a solidão!
Com filmes assim você conhece um outro tipo de humorismo. Não se trata de piada ou insulto. São roteiros trabalhados sobre gags, situações físicas e emocionais no limite da realidade, muitas vezes nem mesmo engraçados, frequentemente trágicos, dramáticos, temperados pelas trevas, tão habituais nos seres humanos.
Ontem assisti a “Comedians” (veja a sequência de frames), um filme feito pelo napolitano Gabriele Salvatores, em 2021, a partir de uma peça inglesa de Trevor Griffiths. Salvatores ajuda a explicar esse humor a que me refiro, descendente da tese de Luigi Pirandello segundo a qual o verdadeiro riso nasce da reflexão. O filme é um exercício teatral que mostra comediantes horas antes de uma seleção a ser aplicada pelo personagem de Christian de Sica, filho do diretor Vittorio e estrela da televisão italiana. “Comedians” faz perguntas. Que humor importa? O que busca espelhar a expectativa do espectador ou aquele que pretende despertar o potencial de transformação adormecido nele?
VENHA DORMIR LÁ EM CASA ESTA NOITE (La Stanza del Vescovo)
PÃO, AMOR E… (Pane, Amore e…)
MAL OBSCURO (Il Male Oscuro)