Nos anos 1980, apenas para visitar apartamentos em São Paulo com o objetivo de escolher qual deles alugaria, tive de mentir aos porteiros dizendo que era uma noiva prestes a casar, além de levar meu “noivo” às visitas.
Ninguém alugava apê decente para as solteiras.
Nas redações, por essa época, era quase certo que quem lhe desse carona de noite, após o trabalho, tivesse intenções adormecidas.
A gente não podia fazer muito a respeito então, exceto driblar os zagueiros, como uma Sofia Loren nas comédias. Ou procurar a justiça masculina, sem chance de gritar “me too”.
O mundo andou, mas o preconceito ainda constitui uma praga, amizades. Se você é jovem, como a Manuela D’Ávila, querem lhe calar, porque não deve saber mesmo o que diz… E se você não é jovem, como eu, nem conservadora politicamente, como seria de esperar, acham que você não entende do que fala, porque envelheceu.
Vocês não imaginam o machismo que sofri para editar cultura em nosso jornalismo, sempre caçada por meninos famintos, conservadores ou não. E o “ageísmo” é mesmo aquele de que falou Madonna num discurso. As mulheres frequentemente o praticam contra mulheres. Passe dos cinquenta anos pra ver.
Li que 104 países ainda proíbem por lei a mulher de realizar certas atividades (como levantar mais de 20 quilos, no Brasil) e achei bem normal, pra ser sincera.
Queria era ler uma pesquisa como essa em torno de mulheres com a coragem de envelhecer publicamente enquanto lutam no mercado de trabalho. Mas pelo jeito ninguém ainda se ligou de que esse é um assunto a considerar.