De 4 de fevereiro de 2017
Agora há pouco, sem guarda-chuva, aguardo o fim do temporal sob o toldo de uma loja fechada, na esquina da Pamplona com a Jaú. Aproxima-se um senhor com guarda-chuva. Uns 88 anos.
– Vai atravessar a rua? – me sorri.
– O farol não abre, estou esperando o verde chegar! – retribuo. (Dizem que risada é contaminação.)
– Quer vir?
– Carona, o senhor diz? – Ele não responde ou o reflexo é lento. Mas aceito, por formosura.
– Então pode pegar! – e me passa o cabo.
– Ah, tá, eu seguro.
– Haha.
– Sempre esqueço meu guarda-chuva em casa.
– Esse é da minha mulher. Ela é doente. Quer uma batatinha?
– Sua mulher?
– Você! Com cervejinha!
– Não, obrigada, tenho compromisso.
– Mas você é bonita, hein?
– Já fui ajeitadinha. Tudo passa.
– Um suco no McDonald’s?
– Não mesmo.
– Antes eu corria atrás de dinheiro, agora o dinheiro corre atrás de mim.
– Que sorte a sua.
– Sou administrador de dois edifícios. O dinheiro cai na conta. Mas, se não cai, a gente manda matar.
– Entendi.
– Você tem marido?
– Violento.
Não internam as pessoas mais?