Meu problema central com as redações brasileiras desde os longínquos anos 1980 foi sempre ter de me ver com a estupidez geral e fingir que nada acontecia, imaginando que um leitor lá longe iria pagar por tudo isso, por minha tristeza inclusive.
A mediocridade alegre dos confinados não impedia, era claro, que houvesse gente maravilhosa e genial a sobreviver nesses locais insalubres. Invariavelmente, embora nem sempre, os bons eram os párias. Cito o Renato Pompeu porque ele se foi e muito sinto sua ausência deste mundo.
Renato me dava uns sorrisos de canto quando ouvia coisas como estas, que me faziam enrubescer e, como sempre, sem sucesso, contra-argumentar entre as máquinas de escrever:
– O melhor jornalista brasileiro é William Waack.
– O Augusto Nunes tem um texto maravilhoso.
– O Bial é um poeta.
Para Renato, tudo era uma contrapartida à célebre frase que um dia ele ouviu no boteco (boteco como a instituição onde se anunciava o fim do mundo):
– Pelé, cego de bola!
O Bial é um ignorante machista, nunca deixou de ser. Só se espanta quem quer. (Meu teclado vermelho escreveu: “quem queer”).
Mas, como eu disse antes, não é o único jornalista a criticar a diretora antes de criticar o filme.
Aparentemente os mesmos que viram na trash & comic Bacurau uma leitura revolucionária do Brasil e nas novelas de Muylaert, tratados de sociologia sobre a senzala, acham o Democracia um lixo. Mas por que um lixo?
Ah, a voz da Petra.
Menininha rica.
O filme não tem outro lado.
É a história dela, não a do Brasil.
Tudo bem você, como espectador, detestar a voz dela e sua fala em primeira pessoa. Tudo bem você pedir mais ação quando se põe diante da Netflix depois de um dia cheio. Mas não o crítico. Crítico não deveria ser rasteiro, machista, estúpido, violento.
Nem sei se ainda existem redações. Mas que lixo, gente. Que lixo de pensamento. Depois não adianta reclamar do Weintraub.