
Queria esclarecer uma coisa.
Quando mudei para o centro frequentei um shopping de verdade pela primeira vez.
O Shopping Light, onde antes funcionou a central administrativa da Light e, depois, da Eletropaulo.
Tive paixão por esse prédio na calçada oposta ao do Mappin desde a infância.
E meus pais, quando eu já não andava com eles, amavam ir até lá para passear e comer nos fins de semana.
O prédio não é preservado em sua integridade arquitetônica interior.
Mas alguns pontos ali dentro ainda são maravilhosos por evocar antigos passos.
As vitrines na entrada, de onde observamos o reflexo do Municipal.
Os corredores dos antigos elevadores, hoje desativados.
Os andares altos, de onde avistamos a praça Ramos.
As escadas rolantes.
Mais que isso, é o único shopping da cidade, de seu centro, onde os pretos circulam livremente com suas famílias, sem medo de que os seguranças venham massacrá-los pela cor.
Na época em que me mudei, ia todo dia por aquelas bandas só para apreciar esse lindo espetáculo.
Até me matriculei na academia descuidada cuja mensalidade era 80 reais.
Eu sentia que pagava para estar diante das imensas janelas que me davam uma perspectiva de todo o viaduto do Chá.
Malhar, emagrecer, o que são tais coisas diante da visão?
E torcia para que caísse água, e que eu ficasse presa lá, e que pudesse fotografar as pessoas livres enquanto esperassem a chuva passar.
Então, quando hoje vejo essa enorme fila da gente remediada ou humilde só para entrar no prédio imponente, com máscaras no queixo, usadas como acessórios de estilo, posso compreender o efeito Beyoncé que as captura.
O pobre naquele entorno sente sua majestade.
Beleza e poder.
Shopping Light, shopping-luz.
Só me entristece mesmo que precisem correr até ele e aglomerar-se nele, desde o quarteirão de entrada, justamente neste momento.
Não carecia.
Preto é bonito onde estiver.
E até mais.