O desejo ardente silenciado

“Junho Ardente”.

A obra-prima de Lord Frederic Leighton foi concluída no final de sua carreira, em 1895.

A sensualidade de sua figura central resplandece na cor laranja do vestido drapeado.

Ela dorme ou está no limiar da morte, conforme talvez simbolize o ramo tóxico no canto superior direito do óleo sobre tela.

As prováveis modelos da obra foram as atrizes Dorothy Dene e Mary Lloyd, retratadas por vários artistas pré-rafaelitas.

“Junho Ardente” começou como motivo para adornar uma banheira de mármore em outra obra de Leighton, “Descanso de Verão”.

Mas ele amou tanto seu personagem que decidiu recriá-lo numa pintura separada. 

Leighton realizou pelo menos quatro esboços antes de pintar a figura central e lutou para fazer o ângulo de seu braço direito parecer natural.

A naturalidade era importante nesse movimento inglês de “arte pela arte” (art for art’s sake) ao qual aderira, em que as qualidades artísticas importavam mais que o tema das pinturas.

Mas como não ver importância neste tema?

A figura central não consegue acordar, como se seu desejo, evidente na cor radiante, estivesse reprimido entre o sono e a morte.

É ou não uma magnífica maneira de entender a repressão à sexualidade feminina numa Inglaterra vitoriana?

E em tantas eras que se seguiram?

Arte pela arte, estamos igualmente diante de uma representação excepcional.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s