
Luiz Paulo Machado
Me ligo neste assunto pela vivência afetiva, mas também histórica. Sei que o futebol acompanha o carrossel dos acontecimentos sócio-políticos. Que sua estrutura, nascida da diversão pré-colombiana de rolar a cabeça do inimigo e chutá-la, foi sendo estabelecida pelos milênios ao passo que mudavam as táticas de batalha. Laterais, defesa, ataque, marcação homem a homem ou por zona? Posicionamentos de guerra. As invenções de Napoleão, incorporadas.
Futebol é combate e o campo, um templo para os fans, os torcedores, os fanáticos. Um homem guarda sua virgem pátria no gol, sob pena de ela ser arrebentada pelo opositor.
Melhor que choro e fúria, então, a tática. Porque antes era um amontoado em campo, como no calcio storico fiorentino, onde todo mundo junto (ainda) persegue a bola. Como naquele atraso do rúgbi, sangue e lama lambuzam o corpo de quem luta. Futebol tem muito disso também, como uma recordação de origem, constituindo, ao mesmo tempo, uma sensação evolutiva.
Por isso há um compasso mágico do futebol com a realidade política – ela está implícita nele. Talvez grandemente em razão disso tenhamos perdido para a Alemanha por sete a um em 2014, porque naquele instante mesmo começava o desmoronamento de um país. E quem sabe a juventude volte neste momento, concentrada, mágica e inventiva, para desfazer o golpe dos bárbaros, que só agora parece ser entendido quase universalmente como um barbarismo.
Futebol, guerra declarada, coração metafórico reunido.
Muito bom!
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