
ÁDUA E SUAS COMPANHEIRAS
por Rosane Pavam
(republicado do site Histórias de Cinema)
Repare nas mulheres deste filme. Cada beleza é uma fortaleza diante dos homens. E repare nos homens, até em Mastroianni. Todos vis.
Você sai de “Ádua e Suas Companheiras” (1960) sem confundir os personagens porque se trata de um filme de Antonio Pietrangeli, nítido, belo, triste.
Ele aqui ainda não tinha se tornado um dos grandes da commedia all’ italiana, resposta do cinema ao teatro medieval da fria essência humana. E detestava este filme talvez por não ser, neste sentido, “cômico”.
“Ádua” ainda correspondia ao neorrealismo heróico. Pietrangeli sabia disso porque trabalhou como assistente de Visconti e lutou pelo movimento quando se tornou crítico de cinema, depois de cursar medicina.
Ele queria mais, bem mais que a Cabíria de Fellini, encenada três anos antes. Era o diretor das mulheres. Estava no mundo em breve passagem para mostrar o abismo diante delas, seus corpos trágicos insubmissos.
Neste filme, elas habitam o bordel de Simone Signoret, florido por Magali Nöel e firmado por Emmanuelle Riva no papel de mãe. Mas Signoret não é aqui a Joan Crawford de “Johnny Guitar”. Não há redenção para ela, embora tudo o que o cinema peça esteja lá, como esteve em Mizoguchi: um fruto da criação do espaço público para discutir nosso destino circular, em eterno retorno a seu início.
Rosane Pavam é doutora em História Social pela USP com a tese “Retratos do Épico Cômico: Totò, De Sica e a commedia all’italiana”
ÁDUA E SUAS COMPANHEIRAS
Diretor: Antonio Pietrangeli
Itália, 1960, 106 min
Disponível na Amazon Prime Video