A liberdade celestial

Em “A Ponte de Bambu”, Marcelo Machado vê a ligação mantida
pelo amigo e jornalista Jayme Martins com a China desde os anos 1960

Em Pequim, a partir de 1962, Jayme Martins atua como professor

Se um lugar não lhe dá liberdade, você pode procurar outro lugar para ser livre. Ou talvez encontre esta condição dentro de si. O jornalista Jayme Martins, hoje com 90 anos, não se sentia tão livre assim no Brasil. Ele buscou por sistemas filosóficos que lhe garantissem uma ação libertária, mas não parou em nenhum até encontrar o marxismo. Em 1962, ser comunista não parecia coisa boa. Ele então decidiu experimentar a China que lhe oferecia trabalho, e a sua mulher, além de moradia em um hotel para estrangeiros. Teve duas filhas lá e não pensava em voltar ao seu lugar, então francamente antilibertário, até que a anistia chegasse aos brasileiros e ele pudesse estar em Jundiaí para espalhar o que aprendeu com os chineses.

Jayme Martins vestido com o rigor da tradição

É, em linhas gerais, o que diz o documentário de Marcelo Machado, A Ponte de Bambu. Não que o diretor tenha conseguido aprofundar a história de Martins desde a infância de suas vocações. Em verdade, trata-se de mais um filme sobre a China em que a perspectiva precisa ser familiar, resistente como aquela gramínea. A mulher do diretor é chinesa, e Jayme Martins nunca perdeu a fé nos comunistas dali, nem mesmo quando deixou às pressas a Pequim onde as filhas estudavam. O massacre na Praça da Paz Celestial, conforme ele informou à época em reportagens ao JT, ao Estadão e ao SBT, foi desnecessário e cruel. Tropas com seus tanques chegaram a Pequim naquele 1989 desinformados das manifestações políticas crescentes, achando que combateriam uma enchente.

As filhas Raquel e Andrea com os colegas da escola para chineses
Raquel com os estudantes da Praça da Paz Celestial durante as manifestações que resultaram no massacre de 1989

Marcelo Machado é um documentarista sensível, com belo entendimento do ritmo musical e dos depoimentos, obtidos com a naturalidade de quem divide a cozinha com seus personagens. Não se posiciona a favor da China, e não precisa. Martins ainda acredita nela. A seu ver, o país adaptou a economia de mercado ao comunismo, transformando a mais-valia em bem-estar social. E o jornalista acredita que isto vai dar em coisa boa, com certeza.

A família reunida em Jundiaí
Com amigos e a esposa Angelina na Muralha da China

A PONTE DE BAMBU

Diretor: Marcelo Machado

Brasil, 77 min

Onde: bit.ly/3mI4SJI

exibições: 27/9, às 21h, 28/9, às 15h

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