
A gente luta pra dormir sem livro e não consegue. Então a gente pega um livro de histórias curtas pra ver se o sono embala rápido essa nossa cabeça culpada e doída, na velocidade da historieta.
Toda noite isso.
E nada acontece.
O tempo não existe na literatura. E as imagens são poderosas mesmo se longas ou pequenas. Não adianta usar a literatura pra nada, porque, usada, ela nos rejeita.
Mas isto de ler novelas de Proust na cama na hora de dormir funciona às vezes pra mim, sim. Assim como as novelas e os cachorrinhos nos contos de Tchecov. Bulgakov, que ousei comprar na feira do livro, vai ser interessante absorver no que tem de riso, tristeza e potencial sonífero.
Hoje foi a vez de Conceição Evaristo e seus Olhos d’Água. A passagem do tempo, a profundidade do rio, a cor dos olhos de minha mãe, o espelho que vem a ser nosso inconsciente, a fome, a mulher, quem é a mulher, quem são suas filhas.
Não me ajudou a dormir.
Acho até que não dormirei nunca mais.