
Não achei indecente queimar o Borba, embora admita existir um grau de controvérsia na história, visto que o autor da obra, Julio Guerra, foi artista humilde e essas encomendas, do que quer que fossem (e Guerra é também o autor da Mãe Preta no Paissandu, bela sem controvérsia), alimentavam os escultores quando escultura era um caminho considerável para a arte popular remunerada.
Mas se julgasse indecente o ato dos meninos do grupo militante, nem me manifestaria. Quero dormir na paz. Gritar pega ladrão no Brasil não pega ladrão. A polícia só aceita intimidar e trancafiar pobre, indefeso, preto, criança. E sabe-se lá fazer o quê (sabemos o quê) com a vida dessas pessoas. O ativista Galo que foi preso já estava na mira dos escroques. E sua mulher, mãe do filho deles de 3 anos, que foi visitá-lo, o que justifica sua prisão? E o motorista de caminhão que carregou os pneus?
A estátua adocica a imagem de quem representava as bandeiras facínoras. Além do mais, Borba Gato está ali de botas, quando andava descalço…
O monumento deveria ter sido mandado há anos para um museu de imagens de atrocidades históricas, como existe em outros lugares. Mas aqui neste tucanistão não tem quem pense nisso. A classe média paulistana tão abominável cognitivamente, como ensinou a Chauí, pensa que Borba Gato foi importante pra São Paulo por se tratar de um tremendo desbravador, do tamanho da estátua.
Não espero mais nada dessa gente burra de mau juízo. Nem pra plantar batatas serve.
O que eu quero, demando ou exijo, como cidadã, é liberdade já para os detidos.