
Depois de meses trancada em casa, senti minhas costas travarem.
E decidi recomeçar a andar pela vizinhança, com máscara reforçada e sufocante, para impedir essa dor de crescer.
Igualmente precisei de algo para que o dia não morresse com tanta tristeza em mim.
O pôr do sol me conflitua.
Insisto em vê-lo como um adeus.
Mas paradoxalmente amo a noite na minha janela, aos poucos tornada galáctica e profunda.
Hoje, ao andar sob o sol forte, redescobri muitas ruas do meu entorno histórico.
Amei tudo.
Estive perto de tudo.
Do mercado, do povo de máscara no queixo, da ruína.
Sou consciente da miséria que só cresce e das ruas não varridas pelo ladrão de merendas.
Mas não fico triste.
Alguma beleza, apesar disso tudo, ainda acende em mim a cada passo dado no chão.
Eu sinto que sou capaz de distribuí-la por essa cidade cujo pulso é também o meu e cuja história me pertence.
Manhã, tão bonita manhã, chegue de repente.